DELITO há dez anos
André Couto: «Começou a disputa sobre quem é mais Syriza. A análise dos factos é fácil: apenas o Bloco de Esquerda pode reclamar ser camarada político de luta reconhecido na Grécia. Ainda assim, em Portugal, não consegue unir o que o Syriza uniu na Grécia. Nos últimos meses muito menos. Para além dos laços de sangue a vitória do Syriza é, também, de todos aqueles que têm lutado por uma mudança política na Europa, não interessando o partido político, até porque muitos são independentes. Esta noite, por exemplo, vibro com o Syriza como amanhã com o Benfica. A mudança na Europa, uma nova confiança e agenda, não é propriedade de ninguém, é de todos os que a desejam, anseiam e lutam por ela há muitos anos.»
Francisca Prieto: «Esta, de entre todas as semanas possíveis, calhou-me a mim escrever a rubrica do blogue da semana. Ora não fica lá muito bem uma pessoa andar a promover um blogue seu, mas acontece que passei o dia de ontem a carregar os caixotes que vão permitir que o meu blogue passe as fronteiras da vida virtual e se materialize na vida real. E isto é tão espectacular que tem de ser contado, sobretudo quando acontece nesta semana, precisamente.»
Helena Sacadura Cabral: «Fui hoje ver o “Jogo de Imitação” e dou por muito bem empregue o tempo que passei na sala onde o vi, pese embora tivesse ido a uma sessão em que ainda havia bons raios solares para aproveitar. Trata-se de um filme realizado pelo norueguês Morten Tyldum - o mesmo de "Headhunters- que narra a vida de Alan Turing, o lendário génio da matemática que, ao decifrar os códigos nazis, terá ajudado a Inglaterra a ganhar a guerra.»
Luís Menezes Leitão: «À frente da Comissão Durão Barroso sempre esteve totalmente do lado das posições alemãs e contra os interesses dos países do Sul, incluindo daquele a que pertence. Como bem se escreve neste artigo: "Os dois líderes políticos estiveram juntos na pobreza e na austeridade, no desemprego e no crescimento da Europa, até que o fim do mandato de Durão, em outubro de 2014, os separou". Faz por isso todo o sentido que Merkel condecore Durão Barroso. Já que Cavaco Silva também o tenha feito, é mais difícil de explicar. O legado de Durão Barroso na Europa está à vista com o crescimento dos partidos radicais que ameaçam estilhaçar o projecto europeu. Aposto que, nas suas próprias imortais palavras, hoje vamos começar a ter o caldo entornado.»
Luís Naves: «A dose de austeridade foi excessiva na Grécia? Claro. Isso é reconhecido por todos os intervenientes, mas os europeus acham que estão a fazer a sua parte, pagaram os resgates e há ajudas disponíveis, nomeadamente o estímulo monetário do BCE ou os fundos europeus. A Grécia é que se endividou de forma irresponsável e terá de aceitar as condições dos empréstimos ou escolher sair do euro, caminho que representa uma calamidade bem maior do que os actuais sacrifícios. É assim que a Europa do norte vê a questão e não compreendo o argumento de que, no caso das exigências gregas serem rejeitadas, está em causa a democracia. Seria viável sobrepor a vontade dos gregos à da opinião pública dos países credores? Afinal, o governo alemão também responde perante os seus eleitores e enfrenta os seus próprios desafios populistas, precisa de ter extremo cuidado com as cedências que está disposto a fazer.»
Eu: «Hollywood, reino por excelência dos narcisos, raramente se olha ao espelho. É pena. Porque quando o faz costuma produzir obras-primas. Assim foi, por exemplo, com O Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard, 1950), de Billy Wilder, genial incursão ao lado negro da fábrica de sonhos, incapaz de alimentar as ilusões dos seus protagonistas. Ficarão para sempre na memória cinéfila cenas capitais desse filme: um corpo a boiar na piscina, actores do cinema mudo (Buster Keaton entre eles) jogando cartas numa mesa onde há muito deixou de haver ases, Gloria Swanson descendo a escadaria que simbolicamente a conduz do patamar da glória do passado ao chão que pisamos todos nós, simples humanos.»