DELITO há dez anos
José António Abreu: «Diz-se que muitos homens ouvem «sim» quando as mulheres dizem «não». Sem dar azo a violência física (excepto, talvez, autoflagelações), o problema oposto é menos grave mas causa certamente inúmeras mágoas. Às vezes desconfio que sofro dele. Que passei a vida a ler «nãos» onde afinal estavam «sins». (E depois fico sem saber o que é mais patético: ter desperdiçado as oportunidades ou estar agora a inventá-las.)»
Luís Naves: «O spin doctor não é alguém que esconda os factos, mas um gestor de crises, com importância na explicação das decisões (veja-se por exemplo o carácter central da escrita dos discursos). Os jornalistas nem sempre procuram a verdade, muitas vezes têm motivos egoístas ou seguem pistas falsas. Os políticos, tratados pelos autores sem demagogia, vivem no medo de perder tudo por causa de uma trivialidade e nem sempre fazem o que gostariam de fazer. Borgen mostra a força das democracias parlamentares europeias e é uma crítica demolidora às simplificações populistas.»
Eu: «Herman Melville rasgou estradas na prosa de ficção norte-americana, Mark Twain abriu-lhe cruzamentos e Jack London traçou-lhes múltiplas veredas com projecção universal. Como fica bem patente neste conto -- assombrosa parábola do homem no confronto ritual com a natureza, herói anónimo num combate sempre desigual, Sísifo condenado a erguer-se a cada adversidade mesmo com a certeza antecipada de que a morte será o fim.»