DELITO há dez anos
José Gomes André: «O nutricionismo é uma notável invenção do século XX, mas corre o risco de ser uma praga do século XXI. À força de sermos todos muito saudáveis, e de dosearmos e seleccionarmos os produtos ideais para a nossa dieta quotidiana,tomámos a via sacra do niilismo alimentício. Não há um santo dia em que não apareça um programa televisivo, um debate na rádio, ou uma reportagem no jornal sobre os “malefícios” de uma dieta “inadequada”, inevitavelmente acompanhados de uma lista de “produtos a evitar”. E é aqui que reside o busílis da questão.»
Luís Menezes Leitão: «Apeado António José Seguro, o PS de António Costa está inteiramente vocacionado para um governo de bloco central, juntamente com o PSD, apostado em satisfazer os interesses do costume, especialmente os dos políticos. Os funcionários públicos perderam até 10% dos seus salários e tanto Passos Coelho como António Costa só os prometem devolver nas calendas gregas. Mas entretanto repõem aos seus amigos uma imoral subvenção vitalícia, obtida ao fim de 12 anos de "trabalho" no parlamento. São estes privilégios dos políticos que os sacrifícios dos cidadãos pagam. Tenham vergonha.»
Sérgio de Almeida Correia: «A menos de um ano das próximas eleições legislativas o bloco central abriu uma oportunidade de ouro para a oposição à esquerda do PS, o populismo e os demagogos que espreitam uma oportunidade para "Poderem". A proposta de reposição das subvenções vitalícias a políticos, por muita razão que possa ter na sua génese, pela forma desastrada como foi conduzida e apresentada, só pode servir para afastar ainda mais os portugueses dos partidos políticos e dos políticos.»
Eu: «Acreditei desde o início que a subvenção vitalícia aos políticos - ontem reposta de forma inqualificável por iniciativa conjunta de dois deputados que já foram ministros, um do PS (José Lello) e outro do PSD (Couto dos Santos) - seria chumbada na votação final do Orçamento do Estado para 2015. Um cenário de viabilização desta medida seria imoral num País que faz tão duros sacrifícios há tempo demasiado. Seria, na verdade, um insulto a todos os portugueses. Não foi preciso esperar tanto: a proposta acabou por ser retirada ainda durante o debate na especialidade. Entretanto, creio ter inegável interesse jornalístico conhecermos a lista completa dos 318 beneficiários desta putatitva medida, que custaria ao erário público - isto é, a todos nós - a módica quantia de sete milhões de euros por ano. Talvez dela constem personalidades que adoram fazer proclamações retóricas sobre a necessidade de impregnar a política de referenciais éticos. Podiam ter renunciado à subvenção, mas não o fizeram. Fiéis àquela máxima de autor anónimo: "Ética, para mim, é ter dinheiro nos bolsos."»