DELITO há dez anos
José António Abreu: «José Sócrates foi o pior primeiro-ministro da terceira república e um dos três políticos portugueses mais importantes das últimas três décadas e meia (estou a recuar apenas até à morte de Sá Carneiro mas provavelmente poderia ir até 1974). Conseguiu-o unindo as piores características dos outros dois: Cavaco Silva e Mário Soares.»
Luís Menezes Leitão: «É normalíssimo que Soares tenha ido espontaneamente a Évora visitar Sócrates, o que só demonstra elevação de carácter. Soares nunca deixa cair os seus amigos, tendo mesmo, quando era Presidente da República, visitado Bettino Craxi no seu exílio na Tunísia em fuga às condenações da justiça italiana. Outros políticos podem preocupar-se com a sua imagem pessoal ou com as conveniências partidárias. Soares não se move por esses critérios.»
Sérgio de Almeida Correia: «O "caso Sócrates" pode ser uma chatice, um problema político (que não é), um incómodo, mas a partir de agora será cada vez mais apenas um caso pessoal. E também um problema do Ministério Público, dos seus advogados, dos seus amigos e da desacreditada, e recorrentemente condenada nas instâncias europeias, justiça portuguesa. Casos pessoais não são casos nacionais.»
Eu: «É espantoso verificar como se injuria e difama o mensageiro enquanto se apregoa a necessidade de respeitar o bom nome e a presunção de inocência dos arguidos, sejam eles quem forem. Sobretudo quando essa incongruência é assumida por pessoas que noutros casos, com outras cores políticas, fizeram tábua-rasa dos mesmos princípios que agora juram honrar e defender. Sobretudo quando essa incongruência é assumida por pessoas que noutros casos, com outras cores políticas, invocaram como alicerces das suas certezas alguns dos órgãos de informação que então citavam como veículos idóneos e agora - só agora - acusam de violar segredos de justiça. Tais pessoas concebem a verdade como um conceito de geometria variável: diz-me que trincheira ocupas, dir-te-ei quem és.»