DELITO há dez anos
José Navarro de Andrade: «Os deserdados cantam. Os negros das charnecas do Mississippi, os ciganos andaluzes, os ganhões do Alentejo – e outros, noutros lugares, haverá – cantam para levantarem a voz ao céu e tirarem-se da terra, num instante de liberdade. O canto trabalha como as vacinas: cantam-se os lamentos para aliviar a tristeza e espantá-la para bem longe. Cantar é primitivo, é anterior aos sentimentos e aos sentidos, não se canta por revolta ou submissão, canta-se para desafiar a sorte e o destino. Por isso o cante do Alentejo é irredutível e impermeável ao verniz da cultura; o resto da humanidade, nós, pode escutá-lo - que eles são generosos e partilham-no - mas só os alentejanos é que o sabem.»
Luís Naves: «Um País que durante séculos se habituou à impunidade dos poderosos assiste com espanto a uma vaga de inquéritos judiciais. Os altos escalões da administração, a banca, os partidos, tudo isto parecia intocável. E, no entanto, na comunicação social, onde antes se reclamava quase todos os dias por mais transparência e pela remoção imediata das maçãs podres, esta semana quase só se ouviram as vozes daqueles que, sem conhecerem os factos, contestam a actuação dos juízes.»
Sérgio de Almeida Correia: «Vender o País a retalho não é bonito de se ver. Mas se daí vier algum proveito, menos mal. Agora que queiram misturar os cavalos com as nossas mulheres é que não me parece grande ideia.»