DELITO há dez anos
José António Abreu: «Seja qual for a posição que se tenha em relação à independência da Catalunha e à validade dos referendos em processos deste género (...), convém não confundir as coisas: o que se passou ontem não foi um referendo; foi uma manifestação dos independentistas, a que mais de 60% dos potenciais votantes decidiu não comparecer. O governo de Madrid deve certamente reflectir sobre o facto de quase dois milhões de catalães se revelarem a favor da independência total e aceitar que o assunto tem raízes históricas demasiado profundas para ser empurrado para debaixo do tapete por via de preceitos constitucionais (...) mas os independentistas deveriam fazer o mesmo sobre o facto, complementar e não menos significativo, de existirem cerca de quatro milhões que ou não se expressaram ou o fizeram defendendo alguma forma de ligação a Espanha.»
José Gomes André: «Cada homem sente-se perdido na sua pequenez, na sua insignificância, incapaz de vislumbrar o processo, inábil para justificar a sua própria razão de ser. E no entanto, ele é indispensável ao todo. Cada sacrifício, cada decisão, cada acto conta. Cada ser humano é imprescindível ao cumprimento do género humano. Pois não é no indivíduo que a humanidade se realiza, mas é através dele que ela genuinamente se cumpre.»
Luís Menezes Leitão: «Nunca percebi porque é que em Portugal a opinião geral vai no sentido de defender a todo o custo a unidade de Espanha, quando é óbvio que existem mais nações na península, sendo uma delas indubitavelmente a Catalunha, onde se realizou agora uma esmagadora votação a favor da independência. Afinal de contas, em 1640 tanto Portugal como a Catalunha lutavam pela sua independência, tendo sido a prioridade dada pelos espanhóis ao controlo da revolta catalã que permitiu a Portugal obter a sua libertação. É por isso mais que tempo de essa injustiça histórica ser corrigida, reconhecendo-se à nação catalã o direito a ter um Estado soberano.»
Luís Naves: «A queda do Muro de Berlim não foi um acontecimento estritamente alemão, antes o símbolo da reunificação da própria Europa. Ao longo dos últimos 25 anos assisti à transição dos países do bloco socialista para o sistema liberal. Vi como era antes da mudança, testemunhei episódios revolucionários e fui assistindo às vicissitudes da transformação, sobretudo na Hungria. Apesar de ter proporcionado desenvolvimento e liberdade, a transição foi um processo também traumático, ainda mal compreendido em Portugal. Na primeira década, uma geração perdeu a segurança no emprego e muita gente mergulhou na pobreza.»
Eu: «O Muro da Vergonha caiu, mas o PCP continua a defendê-lo sem vergonha nem um pingo de pudor um quarto de século depois. Contra todas as evidências mais gritantes, contra a vontade dos povos, contra o próprio "sentido da História" (mostrando assim ignorar a vulgata marxista sobre materialismo dialéctico).»