DELITO há dez anos
José António Abreu: «Ao segundo álbum, EMA (a americana Erika M. Anderson) continua mergulhada nas questões da identidade num mundo cada vez mais cibernético e impessoal, onde toda a gente cria alias virtuais para esconder a insatisfação da vida real, e onde a privacidade é um conceito cada vez mais difícil de apreender - e de defender. The Future's Void (o título é claro sobre o nível de optimismo de Anderson) inicia-se com um tema que, não se aprofundando a letra, até soa upbeat (e a anos noventa), antes de mergulhar em sonoridades mais densas.»
José Navarro de Andrade: «Wolinski nunca moveu uma palha para cá dos limites da ordinarice, dos ataques pessoais, da piada porca, do insulto rasca, ou seja dos indefinidos confins da liberdade de expressão. Morrer desta maneira aos 80 anos foi o melhor que lhe poderia ter acontecido. Abençoados terroristas que transformaram Wolinski no produto supremo da nossa civilização, a única – sim é etnocentrismo – capaz de aceitar com simples um c’est la vie a obra deste genial bandalho. Wolinski, a partir de hoje serás o meu herói e quando me vierem falar de liberdade, terei um argumento atómico: "permitirias um Wolinski?" Menos que isto não interessa.»
Sérgio de Almeida Correia: «O seu nome ficará para sempre associado ao de um piloto talentoso, excepcionalmente combativo, que como qualquer ser humano teve horas de sorte e de azar. Transportou sempre consigo uma aura de romantismo e glória. Desapareceu agora aos 77 anos, fora das pistas, vítima de um acidente vascular cerebral, sofrido em Dacar (Senegal), mas será como um herói que permanecerá para sempre na memória dos amantes do automoblismo de competição.»
Eu: «Este é o maior problema da Europa actual: a liberdade seriamente condicionada pelos seus mais encarniçados inimigos. Paris, outrora Cidade-Luz, é hoje cidade ensanguentada pelo fanatismo mais extremista. Somos todos, a partir de agora, um pouco menos livres. E trocaremos cada vez mais parcelas de liberdade em troca de segurança. Dilema ilusório. Porque nos alicerces da nossa civilização - que o terrorismo islâmico combate sem tréguas - liberdade e segurança são conceitos indissociáveis. Um não faz sentido sem o outro. Hoje estamos todos mais inseguros e menos livres. É um dia de júbilo para os cultores da barbárie, que não estão algures em parte incerta. Estão aqui, no meio de nós.»