DELITO há dez anos
Luís Naves: «Os imperialistas ingleses da Era vitoriana diziam que não tinham aliados, mas apenas interesses. Os americanos deviam um dia deixar-se de grandes discursos sobre a defesa de alianças e dos valores da democracia e da moral, assumindo com simplicidade aquilo que sempre fizeram, que foi defender os seus interesses. Tentando perceber o que é conveniente para a América (e para o Ocidente), podemos analisar um pouco melhor os vários conflitos que se agravam no Médio Oriente. Tudo o que afecte o fluxo de petróleo terá de ser travado. Tudo o que enfraqueça o governo iraquiano de maioria xiita terá de ser evitado, pelo que Washington precisa de estabelecer uma comunicação com Teerão, que será cada vez mais um importante parceiro conjuntural.»
Eu: «Prestes a terminar, este foi para mim um Verão de várias e estimulantes leituras, feitas sobretudo de reencontros com autores de que muito gosto: William Faulkner, Jack London, Ray Bradbury, Georges Simenon, José Cardoso Pires, Joseph Roth, Rubem Fonseca, Ernest Hemingway, Joseph Conrad, Erich Maria Remarque, Graham Greene. Dezasseis obras em três meses. Lembro-me de ouvir um professor que tive aos 18 anos, na universidade, perguntar aos alunos num anfiteatro: "Os senhores leram muito? Espero bem que sim, pois a partir de agora lerão muito menos. Eu li o essencial dos livros que me formaram até aos 18 anos." Penso pela enésima vez nesta frase que guardei na memória, tomando-a na altura pelo seu valor facial, e não posso deixar de sorrir perante a falta de capacidade de previsão daquele catedrático, pelo menos na parte que me toca. A vida também é isto: sabermos desarrumar os ficheiros em que nos querem incluir os mais velhos e alegadamente mais sábios naqueles anos em que todas as páginas de quase todos os livros permanecem por abrir para cada um de nós.»