DELITO há dez anos
Luís Menezes Leitão: «A Escócia tem todas as condições para ser independente. Tem recursos naturais, uma economia estável, um bom sistema de segurança social e uma população qualificada. (...) A Escócia está na então CEE desde 1973 e é evidente que ninguém se atreverá a rejeitar a sua entrada quando se admitiu a Croácia e a Eslovénia. E mesmo que rejeitasse, só a União Europeia é que perderia com isso, dado que a Escócia ficaria em posição similar à da Noruega, que demonstrou que se pode viver perfeitamente fora da União.»
Luís Naves: «Em caso de acabar o Reino Unido, o referendo será estudado de perto por catalães e flamengos. Caso o futuro corra mal, a votação funcionará como vacina para outros soberanistas. A democracia europeia tem esta evidente vantagem, permitindo que decorram várias experiências em simultâneo, umas servindo de modelo, outras de aviso.»
Eu: «Dois espectros percorrem neste momento a Europa: o do nacionalismo e o da demagogia populista. Quando ambos germinam de mãos dadas, estamos num quadro de tempestade perfeita. É neste quadro que deve ser lida a pressão centrífuga em várias regiões europeias. Desde a que se desenrola na ponta dos fuzis, no extremo oriental da Ucrânia, até ao processo independentista em marcha acelerada na Catalunha, pronto a fragmentar o Estado espanhol. Num mundo que se vai organizando em blocos regionais para enfrentar os desafios da globalização, a Europa caminha em passo trocado, separando-se em vez de se unir. Visto de outros continentes, aquele em que vivemos surge como um reduto cada vez mais frágil e bipolar, sedento de reavivar glórias passadas enquanto cede à permanente tentação da utopia.»