DELITO há dez anos
José António Abreu: «Outra voz mais ou menos esquecida por cá. Canção do novo álbum, Tales from the Realm of the Queen of Pentacles, mais eléctrico do que as pessoas que a recordam apenas por Tom's Diner ou Luka provavelmente esperariam mas, no fundo, bastante na linha do excelente 99.9 Fº, de 1992. Para além desta declaração de estado de espírito, inclui temas inspirados nas cartas de tarot, um sample de Candy Shop, de 50 Cent, e termina com um tributo a Václav Havel, no qual participa a Orquestra de Câmara de Smikov, da República Checa.»
Sérgio de Almeida Correia: «Carlos Moedas diz que lhe entregaram uma pasta "chave para o crescimento da Europa", depois do novo presidente da Comissão ter dito que as pastas chave foram entregues a mulheres. Não discuto pastas em função do sexo, matéria em que quer Junker quer Moedas estarão mais à-vontade. Penso, sim, que Moedas tem uma boa oportunidade para demonstrar que é bem melhor do que aquilo que aparentou ser no Governo de Passos Coelho. O interesse nacional obriga a que lhe seja dado o benefício da dúvida.»
Teresa Ribeiro: «Agora que se estreia o filme do João Botelho vem-me à memória a primeira vez que li Os Maias, ainda na adolescência. Foi um acto compulsivo, de deslumbramento, que me afastou do mundo durante três dias. Bastava esta obra para ter-me rendido aos encantos da literatura, caso não gostasse já muito de livros. Mesmo sem ter esse papel fundador, Os Maias transformaram-me. Como leitora passei a um outro patamar de exigência, sempre à procura dos shots de emoções que já sabia possíveis. Com o tempo descobri também, como um mistério, a impossibilidade de replicar através de outros livros, que me emocionaram - e foram muitos - a mistura de nostalgia, desencanto e ternura que a obra-prima de Eça me despertou.»
Eu: «Não existe melhor interpretação em cinema do que a de John Wayne como protagonista deste filme. É verdadeiramente insuperável o que o actor favorito de John Ford faz aqui com um olhar fixo, um gesto tenso, um simples esgar ou um silêncio que parece eternizar-se. A Desaparecida é um filme cheio de silêncios prolongados e magoados: Ethan Edwards (Wayne) arrasta consigo um segredo por desvendar. "A guerra já acabou há três anos. Porque não voltaste antes?", pergunta-lhe o irmão, Aaron, ao vê-lo chegar com tanto atraso. A pergunta fica sem resposta. Há imensas perguntas sem resposta neste filme. Estamos no Texas, em 1868. Wayne combatera na guerra civil (1861-65), pelos confederados. A derrota marcou-o: jamais voltará a ser o mesmo. "Um homem só pode ser fiel a um juramento", diz ele, num discurso feito de entrelinhas. A Desaparecida é não só um filme de admiráveis silêncios, mas também de meias-palavras e de eloquentes subentendidos.»