DELITO há dez anos
Helena Sacadura Cabral: «Trabalhei com Emídio Rangel, quando da estreia da SIC, com um programa de entrevistas chamado "Segredos". Guardo dessa época uma grata recordação. Rangel era um homem polémico mas competente. Encarou a doença com uma enorme dignidade e, confesso, fui apanhada de surpresa com a notícia da sua morte. A televisão nacional perde alguém que sabia do seu ofício.»
José António Abreu: «Na adolescência, apesar da minha desesperante falta de jeito para assobiar, To Have and Have Not era o meu filme favorito. Ainda hoje continuará perto do topo (evito fazer esse tipo de listas). Tinha suspense, música, humor e, acima de tudo, Lauren Bacall, envolvida num delicioso jogo de sedução com Humphrey Bogart. Um jogo baseado em olhares (the Bacall look, nascido do nervosismo inicial aquando dos screen tests, que a levou a baixar a cabeça e a rodar os olhos para cima) e frases provocantes, tão inocente pelo padrões actuais mas tão verdadeiro que, como o surpreendido e ligeiramente enamorado Howard Hawks comprovou, extravasou das personagens para os actores, dando origem a uma das relações mais sólidas (ainda que, como qualquer relação, não isenta de tensões) que Hollywood já viu.»
Luís Naves: «A democracia recebe a culpa pelos ‘excessos’ do liberalismo e do politicamente correcto. Os políticos vão pedir condições de estabilidade e oferecer em troca mais autoridade. Vamos ouvir falar muitas vezes em comunidade nacional, valores tradicionais, segurança. Nos próximos anos, vamos ouvir falar menos vezes em tolerância cultural e em liberdade.»
Teresa Ribeiro: «Robin Williams matou-se e eu, assim que soube a notícia, lembrei-me daquela tristeza irreparável que lhe velava os olhos mesmo quando interpretava papéis cómicos. Gostava muito dele. Dois filmes de cabeceira, Clube dos Poetas Mortos e O Bom Rebelde, ligaram-nos para sempre. Talvez esse laço afectivo me tenha ajudado a ver aquele desamparo metódico que o afastava do mundo e que segunda-feira tornou oficial. Apetecia-me perguntar-lhe "para quê a pressa?"»
Eu: «Emídio Rangel não foi apenas mais um jornalista: fez a diferença, sem recear a polémica, pulverizando consensos, dividindo opiniões, sabendo andar sempre à frente do seu tempo. Criou a TSF em 1988, desengravatando a rádio, aproximando-a das pessoas, rompendo o monopólio das agendas oficiais. Criou a SIC em 1992, pondo fim a um longo ciclo do "Portugal sentado" nos telejornais da estação única, estatal, governamentalizada. Criou um estilo muito próprio. Com um talento que já lhe vinha de trás, dos tempos em que trabalhou na rádio pública e foi justamente galardoado com um prestigiado prémio de jornalismo. Foi amado e odiado, mas nunca deixou de ir à luta. Perdeu algumas batalhas, mas venceu as mais decisivas. Deixando a sua impressão digital em todos os sítios por onde passou.»