DELITO há dez anos
Ana Vidal: «Hoje fui tomar um café à Vila, para espairecer e andar um bocado. Nesta altura do ano Sintra é dos turistas, um formigueiro deles a perguntar-nos tudo, a fotografar-nos à porta de casa como se nós, indígenas, fôssemos assim uma espécie de hobbits a sair dos nossos cogumelos com telhas. Mas uma destas, juro, nunca me tinha acontecido. No largo do palácio, entre mil outros turistas, vejo um casal com um filho adolescente, todos de ar ansioso e olhar fixo na escadaria da porta principal. Quando me aproximo, perguntam-me (num castelhano com sotaque) a que horas saem... os reis de Portugal! Ok, estão a brincar, claro... entro na onda e respondo, com o mesmo ar sério, que só aos sábados os reis saem à rua para cumprimentar os seus súbditos.»
Luís Menezes Leitão: «Como não podia deixar de ser, houve imediatamente uma série de comentadores que cantaram loas e hossanas à intervenção do Estado no BES. Uma análise mais atenta tornaria, porém, evidente que a solução arranjada pelo Banco de Portugal, e depois aprovada pelo Conselho de Ministros reunido na praia, tem mais buracos do que o próprio buraco do BES.»
Luís Naves: «Pessoas que há uma semana defendiam a tese da responsabilidade colectiva do povo português pela dívida pública defendem agora que os accionistas do BES não podem ser responsabilizados pela dívida contraída pelo seu banco. Estes autores acharam no passado que os portugueses são colectivamente culpados pelos gastos excessivos e o modelo errado e, se isso implicava austeridade por vinte anos, pois então que assim acontecesse. Por milagre, estas regras já não se aplicam aos accionistas de um banco que, dizem, foram ‘enganados’.»
Sérgio de Almeida Correia: «Ainda nos havemos de lembrar por muitos e bons anos da troika dos três cês: Cavaco, Coelho e Costa. Razão tinha o Honório Mau, quer dizer, Novo, enquanto um certo camarada dormia na forma à espera de ser primeiro-ministro.»