DELITO há dez anos
Fernando Sousa: «Portuguese Riders Crew é um blogue arrítmico, sem trincheiras políticas ou ambições literárias. E muito naiv. É um bloco de notas de jovens caminhantes portugueses, alguns cientistas, que lá vão deixando as suas pegadas, do Senegal, dos Galápagos, da Austrália, tão despreocupadamente que às vezes até se esquecem de dizer de onde escrevem – por acaso sei que Banfora é no Burkina Faso, cenário da mais recente das historinhas, a do jovem Siaka, que nos deixa a saudade dos mitos. Na foto, a floresta dos wokoulonis.»
Luís Naves: «Nos momentos em que tudo corre mal, aparecem comentários que comparam eventuais erros e omissões ‘à orquestra do Titanic’. Em certos textos, critica-se que a música continue, de forma imperturbável, exemplo de estupidez e inutilidade. Assim, lemos frases deste género: ‘O barco afundava e havia quem fizesse como a orquestra do Titanic, continuando a tocar’. As melhores prosas acrescentam detalhes de incompreensão da realidade e, além da vertigem do erro, existe igualmente uma espécie de loucura ou tolice. No entanto, esta é uma péssima utilização de um episódio verídico. Se existe lição a extrair da orquestra do Titanic é a da espantosa coragem de oito músicos que, durante o afundamento do grande paquete, em 1912, continuaram a tocar até uma fase avançada do naufrágio: muitos sobreviventes afirmaram ter ouvido música mesmo nos instantes finais da catástrofe.»
Sérgio de Almeida Correia: «Vejo é semelhanças. Muitas. Entre o que ele [António José Seguro] e Passos Coelho dizem e fazem. Como já via com um outro figurão ou com Cavaco Silva. Sempre com o ar mais sério e generoso do mundo. É a política com "p" pequenino. Com "p" de "portugal". De "ps", de "política". E também de muitas outras palavras começadas com "p", sobejamente conhecidas do Tozé, que me abstenho de enumerar para não estragar o domingo a quem tem a bondade de me ler.»
Teresa Ribeiro: «A ideia de ficar finalmente com ela, isolado do mundo e às voltas num barco, para sempre, era mais do que alguma vez podia ter sonhado. Recordo quem?»
Eu: «Agosto é o vertiginoso relato de 25 dias febris num Rio onde todas as paixões sórdidas andavam à solta -- nas mais diversas esferas, incluindo a política -- e que culminaria na manhã de 24 de Agosto de 1954, quando Getúlio, ainda de pijama vestido, pôs fim à vida com um tiro de revólver apontado ao coração no terceiro andar do palácio presidencial, hoje transformado em Museu da República. Quando a filha Alzira e o ministro da Justiça, Tancredo Neves (duas décadas depois eleito primeiro presidente civil brasileiro após uma longa ditadura militar), chegaram ao quarto já o chefe do Estado agonizava na cama. Onde termina o relato histórico e começam os labirintos da ficção? O mérito de Rubem Fonseca, galardoado com o Prémio Camões em 2003, é alternar de tal maneira os fios dos dois novelos que não conseguimos desenrolá-los.»