DELITO há dez anos
José Maria Gui Pimentel: «É o programa semanal de entrevistas de Maria Flor Pedroso. O critério de escolha dos entrevistados varia, muitas vezes ao sabor de comemorações relevantes (e.g. 40 anos do 25 de abril, Centenário da República), mas tende a centrar-se em personalidades políticas no activo om ou com ligações muito fortes a algum partido. E isso é, simultaneamente, a sua vantagem e desvantagem. Vantagem pois são pessoas cuja opinião conta. Desvantagem porque são tipicamente políticos com uma agenda condicionadora, o que torna as entrevistas, por vezes, maçadoramente previsíveis. Destaca-se a qualidade reconhecida de Maria Flor Pedroso, que, com o entrevistado certo, tem ajudado nos últimos anos a criar notícias.»
Sérgio de Almeida Correia: «O ar livre, o jardim, as pessoas tal como elas são em cenas do quotidiano. Tal como Monet, Degas, Sisley ou Pissarro, Auguste Renoir (1841-1919), foi um dos pintores inseridos na corrente do impressionismo. Sendo senhor de uma técnica que combinava o que aprendera no seu anterior ofício de porcelanista com os ensinamentos impressionistas dos seus contemporâneos e os técnicas tradicionais de utilização das tintas, o quadro Le balançoire (1876) é um pedaço da realidade do seu tempo. A imagem aqui reproduzida não permite apreciar a efusão da cor pela tela, o traço rápido do pincel, o branco majestoso do vestido, os rostos límpidos e serenos, os raios de sol que atravessam a copa das árvores e deixam o chão pintalgado. A paz, a serenidade e a tranquilidade libertam-se da tela para nos invadirem e transmitirem uma imensa sensação de doçura, tão bem expressa na imagem da menina junto à árvore.»
Eu: «O Som e a Fúria é um bom exemplo de como os planos iniciais de um escritor são com frequência alterados ao sabor das contingências. Previsto como uma sucessão de contos submetidos a mote comum -- algo frequente na obra de um Hemingway ou de um Jack London, por exemplo -- evoluiu afinal para um romance cada vez mais denso, cada vez mais complexo, cada vez mais desencantado. Um romance que convoca os temas da tragédia clássica reconfigurados por um olhar contemporâneo: família, inveja, traição, avareza, racismo, alcoolismo, incesto, loucura, suicídio. O traço mais marcante desta obra é o seu formato de espelho poliédrico: só apreendemos toda a trama a partir de uma singular arquitectura linguística, adequada ao ponto de vista de três narradores distintos através da técnica do monólogo interior.»