DELITO há dez anos
Carlos Duarte: «É inteiramente verdade que o governo tem sido forte com os fracos e fraco com os fortes. Os sacríficios não foram transversais nem tocaram a todos. E, assim sendo, é igualmente verdade que é legítimo que um reformado (mesmo um que receba 5000 euros ou mais) considere justo que se lhe cortam a reforma também cortem nos credores. Contratos são contratos e deveriam ser iguais independentemente do tipo e com quem são assinados.»
Joana Nave: «A minha escolha recai sobre O Blog do Desassossego. Porque é um blog com ideias interessantes e inspiradoras, porque está bem escrito, e porque ao ler este post sobre o Friends, a minha série favorita, pensei: "Ah! É mesmo isto!", e dei umas boas gargalhadas a ver o vídeo. E claro, para mim a identificação que criamos com alguma coisa é tudo o que basta, tudo o que conta, para ser importante. E se der para rir, tanto melhor.»
José António Abreu: «Ser muito feio pode usar-se como o José Castelo Branco usa a roupa, os gestos e a maquilhagem: como que desafiando constantemente os outros a achá-lo ridículo. Lixado mesmo é ser um bocado feio. Não um bocadinho, não muito, apenas um bocado. Algo que não dê para disfarçar nem para transformar em statement. Que não provoque curiosidade (como um pouco) nem desejo de não ferir (como muito). Por mais que se faça, pelo menos sem recurso à cirurgia, nada altera significativamente a situação. É como ser chato: existe-se mas ninguém quer estar por perto. Sim, é terrível ser um bocado feio. Ou melhor: deve ser.»
Patrícia Reis: «O resto da semana tratará mais notícias destas, boas e más, feitas de pedaços de palavras dos outros, acções desconhecidas e o planeta continua a caminhar. Aproveito para voltar a Antonio Tabucchi, depois de ter enchido a alma com O Enredo Conjugal de Jeffrey Eugenides (sim, o mesmo autor de Virgens Suicidas e do extraordinário Middlesex). Ah, os livros. Uma salvação. Lá se vai o Tango. Cash não temos.»
Eu: «Por vezes questiono-me até que ponto degenerou a política europeia para termos deixado de ver à nossa volta homens com a envergadura de um Adolfo Suárez. Homens tocados por um sentido de elementar decência que os levam a servir da melhor maneira os concidadãos deixando as nações que governam mais respeitadas, mais dignas e mais livres. E que depois se afastam rumo ao crepúsculo, sem aguardarem honrarias nem esperarem o reconhecimento ou até a mais elementar gratidão dos contemporâneos, apesar de terem deixado a sua marca impressa no destino histórico. Bastando-lhes a convicção da missão cumprida e a certeza de terem contribuído para transformar o mundo num lugar mais habitável.»