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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 07.03.24

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Ana Vidal: «Tão ambicioso quanto limitado, dedicou uma vida inteira a tentar chegar a presidente da Junta de Freguesia. No dia em que foi eleito vogal, esfusiante, apresentou finalmente a mulher. Ninguém estranhou que fosse uma consoante. Muda.»

 

Francisca Prieto«Um dia, numa praia do meu pais improvável tão difícil de lá se chegar que só os mais ousados se aventuram, chegou a hora de ir embora. Os miúdos pedem mais um mergulho e eu, na esperança de conseguir prolongar as horas mornas, deixo. Quero lá saber se vêm todos molhados e se enchem o carro de areia.  Sento-me numa cadeira e espero, enquanto repasso pela memória retalhos de verões antigos.»

 

Luís Menezes Leitão: «É evidente que a Ucrânia oriental não reconheceria o novo regime, ao contrário do que precipitadamente fez a União Europeia. Quanto à Crimeia, esta sempre foi um território russo, tendo sido "oferecido" à Ucrânia por Kruschev em 1954, oferta que o Parlamento Russo já tinha anulado logo após o fim da URSS, sem no entanto fazer de imediato a competente reivindicação territorial. Com a queda de Ianukovitch é evidente que a Crimeia faria a imediata secessão da Ucrânia, a que se poderão seguir os restantes territórios orientais. A partilha da Ucrânia está assim hoje em cima da mesa.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Na nossa vida pública nada deverá ser mais transparente do que a decisão política ou administrativa. Porque é esta a única que interessa à democracia e aos cidadãos e não é possível construir uma sociedade política civilizada enquanto a transparência não for a pedra de toque do funcionamento de qualquer instituição do Estado ou da Administração, central ou local, directa ou indirecta.»

 

Eu: «Por enquanto as televisões, que filmam com crescentes precauções para evitarem ser alvos de represálias, ainda conseguem mostrar-nos fragmentos do que se passa na Crimeia ocupada manu militari por tropa russa sem insígnias: quem ousar por estes dias manifestar-se a favor da ligação à Ucrânia nas ruas de Simferopol é logo arrastado por bandos de jagunços incapazes de conviver com opiniões "dissidentes". Impossível ver ali sequer desfraldada uma bandeira ucraniana, confirmando-se não existirem condições mínimas de liberdade para realizar uma campanha referendária. Como pode haver um referendo minimamente credível sem campanha? E como pode realizar-se já no dia 16 -- ou seja, daqui a cinco dias úteis -- uma consulta popular com 30 mil militares e paramilitares russos a impor às urnas a vontade das armas? Estes jagunços são todos homens e têm especial predilecção por agredir mulheres perante a passividade da tropa ocupante russa, que serve de guarda pretoriana às manifestações locais pró-Moscovo. Algo que dá que pensar, em vésperas de comemoração do Dia Internacional da Mulher. Não por acaso, a enviada especial da CNN à Crimeia viu-se hoje impedida de sair do hotel em reportagem.»