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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 15.03.24

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Bandeira: «Dia que passe à rua Direita do Dafundo e veja dois homens como que lutando no interior de uma antiga caixa de electricidade em betão, não se assarapante: é apenas o Ricardo “a levantar o americano”. O americano é o João e a caixa, excrescência no muro de uma quinta apalaçada, é a casa dele. Os velhos de Algés variaram-lhe a nacionalidade quando arranjou trabalho na linha de caminho-de-ferro que levava gente a jogar ao casino do Estoril. Viam-no correr para a estação e metiam-se com ele, “Lá vai o americano”, porque se dava ares de endinheirado e tinha andado pelo estrangeiro todo, para não falar dos mais de dois anos que teve de cumprir na guerra em África.»

 

Joana Nave: «Os mimos sabem sempre bem e dorme-se muito melhor depois de os receber. Mas o melhor mesmo são os mimos que damos a nós próprios quando dedicamos tempo a fazer o que gostamos.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Não gostei de ver uma fantástica vitória em White Hart Lane manchada por atitudes deste calibre. O Benfica é suficientemente grande para dispensar este tipo de atitudes. Como benfiquista e apreciador do fair-play de um Eusébio ou de um Coluna não podia deixar de manifestar o meu desagrado. Os campeões têm de saber ganhar e não podem prestar-se a equívocos manhosos.»

 

Eu: «A minha reacção perante este documento, mais do que de rejeição, é sobretudo de estupefacção. Por verificar que entre os 70 signatários figuram algumas das personalidades que permaneceram mais tempo em funções governativas nas últimas quatro décadas em Portugal. Incluindo três ex-responsáveis da pasta ministerial das Finanças. Consulto os meus arquivos. E concluo que estas três personalidades desempenharam funções governativas em 12 dos 19 executivos que se sucederam no nosso país desde o 25 de Abril de 1974. Perfazendo, no seu conjunto, 20 anos e dois meses de actividade no Executivo. É tocante vê-las dar este salto. Da permanência no Conselho de Ministros ao assento etéreo nas pantalhas televisivas, passando pela elaboração de manifestos em que desdizem hoje o que disseram ontem, com o conta-quilómetros a zero, transfiguradas em treinadoras de bancada. Como se não tivessem a mais remota responsabilidade pelo estado a que isto chegou.»