DELITO há dez anos
Francisca Prieto: «Pelo-me por uma história em que não sei quem resolveu abrir uma livraria numa pequena aldeia de não sei onde. Ora, tendo lido que esta "é uma obra-prima acerca do mundo dos livros, dos sonhos e das vicissitudes da vida, sob a forma de uma história envolvente e original", me atirei ao touro com toda a confiança. Aguentei-me à bronca até meio, mas quando a história, para além de mortalmente enfadonha, foi ensombrada por um fantasma, achei que era demais. Dizem que a autora ganhou o Booker. Deve ter sido no ano em que disputou a shortlist com a Danielle Steel.»
Helena Sacadura Cabral: «O divórcio seja ele de um casamento ou de uma união de facto é sempre uma ruptura e esta é, por norma, fonte de dor. Por isso se espera que os seus intervenientes se comportem com a maior dignidade, quer haja ou não filhos. É um problema de respeito mútuo e um tributo aos anos passados em conjunto.»
José António Abreu: «Portanto o álbum chama-se Woman. Escutem um pouco, antes de prosseguirem a leitura. Já está? Não façam batota, cliquem no triangulozinho e aguardem – com o som ligado – cerca de um minuto antes de continuarem a ler. 1, 2, 3, ..., 30, ...,59, 60. OK, vamos lá. Não, não é a Sade. É – aqui vai – um gajo. Pois, já estavam à espera, depois de tanto suspense de má qualidade. Ah, já conheciam. Cambada de... pessoas bem informadas. Então para os três distraídos que passam pelo Delito nos dias em que não se esquecem de o fazer: os Rhye são um duo baseado em Los Angeles composto por um canadiano (o vocalista) e um dinamarquês. (Quem disse que a globalização não é uma coisa bonita?)»
José Maria Gui Pimentel: «Costumo comentar que a economia, mais do que a ciência que estuda a "alocação eficiente dos recursos escassos", é a ciência que estuda os impacto dos incentivos. É esse o seu maior contributo para o conhecimento.»
Sérgio de Almeida Correia: «Das decisões possíveis sobre a borrada que o PSD aprovou relativamente à co-adopção e à adopção por casais homossexuais, o Presidente da República optou pela mais cómoda: enviar o assunto para o Tribunal Constitucional. Ao fazê-lo, em vez de pura e simplesmente rejeitar o que lhe foi enviado, Cavaco Silva dá o sinal de que admite contemporizar com tal borrada, matando de vez o instituto do referendo. Não podendo despachar para "consideração superior" a apreciação política do que lhe foi proposto, atirou para os senhores juízes o ónus da apreciação jurídica, como se esta se pudesse sobrepor àquela e aliviar as suas dores.»
Teresa Ribeiro: «E eis como em duas penadas se reduz as mulheres à categoria de parideiras. Além de tolo, pois quando uma mulher quer abortar, aborta mesmo, este argumento não podia ser mais insultuoso.»
Eu: «Há quem torça o nariz mal se escutam os primeiros acordes daquilo a que se convencionou chamar música de intervenção. Esquecendo que o nosso próprio Hino Nacional, tão vibrantemente entoado nos estádios de futebol, começou por ser um tema de protesto contra o Ultimato britânico de 1890. A Marselhesa tem origem semelhante. Exemplo de outro hino de protesto que resiste a todos os ventos e a todas as modas: Le Chant des Partisans, imortalizado por Yves Montand -- o mesmo que depois filmou em Hollywood uma fita fútil com Marilyn Monroe.»