DELITO há dez anos
Francisca Prieto: «Quando a conheci foi como avó Thea. Quando os anos já tinham levado grande parte da amargura e dos desgostos e, na lata dos amores-perfeitos, os botões tinham dado lugar a bolachas de chocolate subrepticiamente surripiadas pelos netos. Mas ainda presenciei, por várias vezes, a sua mórbida obsessão pelos cerimoniais da morte. Tendo enterrado a maior parte dos seus entes queridos, para nosso desespero entretinha-se a planear o seu próprio funeral até ao mais ínfimo pormenor. Fez-nos jurar que lhe cobriríamos a cara com um lenço rendilhado oferecido por uma antiga cliente, que lhe colocaríamos uma lápide de mármore na sepultura, que mandaríamos gravar na lápide as datas de nascimento e de morte, que a cobriríamos de flores, eu sei lá.»
José António Abreu: «Há participações de Prince e de Erykah Badu e, numa época em que os álbuns regressaram aos trinta e tal minutos de duração (voltarei ao assunto), é composto por quase vinte temas e mais de uma hora de música. Juntando-lhe os vídeos e a pose geral, é como se as Supremes, vestindo fatos de cat woman, tivessem invadido o planeta Mongo (consultar Flash Gordon), entretanto redesenhado pelo espírito de Júlio Verne com uma ajudinha dos tipos que na Google projectam carros autónomos e vestuário com ligação à internet.»
Luís Menezes Leitão: «Neste momento o CDS só está a olhar para a floresta, perdendo de vista as árvores que são os seus votantes. E assim enfiou-se num labirinto: Ou concorre sozinho a eleições, e será o principal castigado eleitoralmente por todas as mafeitorias feitas pelo Governo ou concorre em listas conjuntas com o PSD, sujeitando-se assim ao abraço de urso que lhe retirará a sua identidade política. O Congresso albanês do passado fim-de-semana, em que só Filipe Anacoreta Correia foi capaz de quebrar o unanimismo em torno do estado de espírito irrevogável de Paulo Portas, é bem capaz de representar por isso o dobre a finados deste partido. O que é estranho é que os seus militantes não consigam ver isto.»
Sérgio de Almeida Correia: «O meu conselho é que da próxima vez negoceiem antecipadamente o preço, de preferência com o IVA já incluído, que comam todos leitão (bifes é coisa para reformados ricos), não deixem gorjeta (não fica bem aos senhores congressistas andarem a fomentar a fuga ao fisco) e, em especial, não bebam o "Sarmentinho".»
Teresa Ribeiro: «Um estudo, que vai ter debate público amanhã, revela que quanto mais ricos e instruídos, menos solidários são os portugueses. Nesta notícia a educação orientada para o carreirismo e o individualismo que lhe está subjacente são apontados como possíveis culpados. Não querendo desvalorizar os seus efeitos pergunto-me se aqui na oligarquia alguma vez o altruísmo fez escola entre as nossas elites. Se a resposta é não, então isto não é defeito, é feitio.»
Eu: «Ele - Já estás a almoçar?
Ela - Já. Sandes de queijo.
Ele - Isso não é almoço! E o que tencionas jantar?
Ela - Linguado grelhado. É para compensar os doces que tive de comer no Natal.
Ele - Não tens nada que compensar!
Ela - No Verão tenho de caber dentro do biquini.
Ele - Mas que disparate!
Ela - Disparate é ter de comprar um biquini um número acima.
Ele - Qual é o problema de comprares um número acima? Tens de passar a comer o que eu disser.
Ela - Tu de dieta não percebes nada.
Ele - Mas dieta para quê?! Estás magra!!
Ela - Tenho barriga. E coxas para abater.
Ele - Isso é para manter!
Ela - Gajos não percebem nada de estética. Só se forem gays.
Ele - Gajos percebem de gajas.
Ela - Gajos são voláteis nas avaliações estéticas. Dizem gostar de banhas mas babam-se com manequins.»