DELITO há dez anos
Bandeira: «Não veste licra quem quer, veste quem pode. Platão escreveria talvez um Sócrates olhando o lustre das nádegas do Alcibíades num calçãozinho de ciclista e dizendo que o Belo é o Justo e vice-versa. O rascunho de atleta que entra no café Africano, ao Dafundo, é de outras partes e já traz de lá a bebedeira feita, vem só por uma bica e uns fiapos de conversa. Faz muitas perguntas ao Euclides, se costuma estar aberto até tarde, se vende isto ou aquilo, se conhece não-sei-quem que é dali da Cruz Quebrada. Enfim, quer dar ideia de que aquele é um encontro ditoso para o proprietário do estabelecimento, que de onde veio aquela moeda de cinquenta há um tesouro de proporções asiáticas, que em sentindo aconchego pode vir a tornar-se cliente frequente e importante. Jamais será uma e outra coisa e o Euclides sabe disso, mas lá vai fazendo que sim com a cabeça e soltando o "'tá bem, 'tá bem" que sói usar quando não está para dar atenção ao que os bêbados lhe dizem.»
Sérgio de Almeida Correia: «Fazer apelo ao Tribunal Constitucional nas actuais circunstâncias para justificar a sua própria incapacidade de redução do défice pelo lado da despesa não é de espantar quando se comportam perante os pensionistas, os reformados e os funcionários públicos como verdadeiros gangsters. Como aqui escrevi, ao primeiro obstáculo malham neles. E ao segundo e ao terceiro também. Porque a esses já lhes tiraram a voz. Até podia não ser inconstitucional, mas antes disso já seria tremendamente imoral.»