DELITO há dez anos
Fernando Sousa: «Quando um comediante fala de coisas sérias pode tornar-se perigoso. O que é suposto é que divirta, não que chateie. Foi o que aconteceu com Russell Brand, a propósito de uma entrevista que deu à BBC, criticando o sistema capitalista neoliberal e a ideia de que os recursos e o crescimento económico são ilimitados. E a esquerda que não se ria. A coisa tornou-se viral nas redes. Evidentemente, os vigilantes de serviço intervieram para repor a ordem: o homem devia era fazer rir, não aborrecer. O pensamento é uma área com o direito de admissão reservado.»
Helena Sacadura Cabral: «Falamos de mais. Da vida dos outros e até da nossa. Quando qualquer delas só deveria interessar aos próprios. Desvendamos as nossas casas como se elas não fossem o nosso mais intimo refúgio e como tal não devessem apenas ser reveladas ao mais próximos. Partilhamos casamentos, baptizados e divórcios. Falamos das nossas doenças e até fazemos livros sobre elas. Enfim, nesta pós-modernidade, habituámo-nos a viver nus. De corpo e de alma, sem que isso pareça já incomodar ou surpreender alguém. Ou seja, como se diz no nosso povo sábio, "pomo-nos a jeito"!»
Leonor Barros: «A minha mesa-de-cabeceira é ecléctica. Nunca tem apenas um livro e reflecte sempre o que sou: professora, mulher, leitora curiosa que paira por vários sítios, escolhe um poiso temporário e parte para outras paragens. Tenho entre mãos os manuais de Alemão, um livro de sugestões didácticas e, por fim, um empréstimo de uma colega, A Purga, sobre a história de duas mulheres que se cruzam na Estónia depois da queda do Muro de Berlim, um dos meus momentos preferidos da História. Para a semana mudarão. Manter-se-á A Purga, vou sensivelmente a meio, e outros substituirão os manuais. Sou muitas e nunca sou a mesma.»
Eu: «A verdade é que os meus primeiros heróis literários usavam capa e espada. Resgatavam donzelas em perigo. Viajavam sem temor até às mais remotas paragens. Faziam frente aos corsários. Tiravam aos ricos para dar aos pobres. Passavam mil privações por serem órfãos mas revelavam-se capazes de enfrentar todos os ventos adversos.»