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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 19.10.23

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JPT: «Aqui está o regresso do João Paulo Borges Coelho. Chegou-me ontem à noite às mãos este "Rainhas da Noite", algo entre Moatize (Tete), na mina do carvão, e Maputo, cá em baixo, entre o passado lá e o futuro cá. Quem mo passou para as mãos acabara de ler este mesmo exemplar, chegado de Lisboa. E, fan do escritor tal como eu o sou, disse entre sorrisos: "é o melhor livro dele". A ler vou já, enquanto procuro as rainhas da noite que existam pela cidade.»

 

Teresa Ribeiro: «Mãe, eu sei que não vais gostar de ouvir isto, mas se eu me der bem por lá, não volto. A voz dele, cada vez mais aguda, a ajustar-se a um miúdo de bochechas e cabelos louros, anelados. Não quero ficar toda a vida a marcar passo. Tão bonito que as pessoas na rua até se viravam para o ver melhor. A ganhar uma miséria. Podia ser o que quisesse, revelaram anos depois os testes vocacionais. Bonito, inteligente e saudável. Uma bênção. Um orgulho de que se podia morrer. (...) Quando ele nasceu, tão bonito, sentiu que a partir daquele dia aguentaria tudo desde que pudesse, pela vida fora, continuar a vê-lo sempre.»

 

Eu: «Nos meus anos de liceu o meu melhor amigo era o único que tinha sido meu colega na instrução primária. Com ele -- e mais uns tantos -- iniciei aos 16 anos um grupo de cinema e um suplemento literário num dos mais conhecidos jornais regionais do País. O grupo de cinema, que se chamava Focus, teve existência efémera: durou um ano exacto e saldou-se por dois filmes -- um documentário enaltecendo os valores ecológicos e uma fita de ficção com um argumento vagamente de espionagem, um tópico da adolescência masculina -- que ficaram incompletos, por falta de verba e de entusiasmo. Mas o suplemento sobreviveu muito mais do que as nossas melhores expectativas iniciais: durou oito anos e acabou por congregar acima de uma centena de colaboradores.»