DELITO há dez anos
Ana Vidal: «Eu levava-lhe palavras e silêncios / medidos sempre com mil cuidados / para não perturbar trompas e clarinetes de nibelungos / para não desafiar os deuses vodun na sua eterna vigília / para não profanar em vão / o reino do artista // Palavras e silêncios / eram tudo o que eu tinha para dar-lhe / Por lá ficaram / suspensos entre o Báltico e a costa do Benim / marítima deriva num pátio de Lisboa / o reino do artista.»
José Navarro de Andrade: «Que a questão dos enterros tem alguma importância, prova-o, no séc. XIX, a Maria da Fonte, uma guerra civil cuja origem deveu-se, entre outras, à introdução de normas higiénicas que acabaram com as sepulturas dentro das igrejas ou ao lado delas, e obrigaram a construção de cemitérios lá longe, no meio do campo. Isto suscitou o horror das massas campesinas, que se ergueu na Patuleia. Há quem diga que esta palavra deriva etimologicamente de "patolo" ou seja, de tolo, rústico, ou parolo como diríamos hoje, mas há quem afrme que vem de "pata-ao-léu", ou seja a populaça de pé descalço.»
Teresa Ribeiro: «A cortesia não é uma qualidade, é um anacronismo.»
Eu: «Fui sócio da Folio durante uns anos: alguns dos melhores livros que tenho cá em casa chegaram-me por esta via, na sequência das encomendas que ia fazendo para Londres (era obrigatório, nessa época, um número mínimo de aquisições por ano). As edições são de qualidade muito superior às que geralmente encontramos no mercado, embora a preços correspondentes a esse acréscimo de qualidade. Deixei de ser sócio por motivos de "ajustamento orçamental", como agora se diz, mas alguns dos meus livros de que continuo a gostar mais têm esta marca: The Quiet American, Dubliners, Rebecca, To Kill a Mockingbird, The Mutiny of H. M. S. Bounty, por exemplo. E dois volumes sobre mitologia grega. E cinco sobre a história da Idade Média. E uma excelente biografia de Beethoven.»