DELITO há dez anos
Eu: «Duas rubricas sempre muito apreciadas no Jornal do Fundão, ao longo das décadas, foram a "vida municipal", que relatava as sessões da câmara, e os ecos dos tribunais, que davam conta dos litígios dirimidos pelas autoridades judiciais. Eram janelas abertas para o país real mesmo em período de implacável censura à imprensa: por ali o leitor vislumbrava retalhos concretos da sociedade portuguesa em geral e da fundanense em particular. No seu estilo inconfundível, António Paulouro - fundador do jornal em 1946 e seu director durante quase meio século - queixava-se em meados da década de 60 da inutilidade de relatar as sessões da câmara quando as decisões já ali chegavam pré-decididas no gabinete do presidente do município, condenando todo o debate ao fracasso. Estes alertas do grande jornalista que Paulouro foi faziam a pedagogia política possível num tempo em que a imprensa regional fiel à sua verdadeira missão, como era o caso, assumia a voz da consciência pública quando o poder local democrático mais não era do que uma miragem.»