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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 25.05.23

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Ana Vidal: «[Lawrence da Arábia] é a história de um homem e da sua utopia, da sua fuga à realidade, da sua atormentada circunstância e da sua catarse muito pessoal, vivida em cenários das mil e uma noites. A irresistível magia do deserto acrescenta a tudo isto a porção necessária de mistério e fantasia, para já não falar na magnífica fotografia e na banda sonora, épica como convém. Em suma, é um feliz regresso aos sonhos mais ousados da nossa adolescência, um mergulho repentino nesse tempo e espaço em que éramos só hormonas.»

 

Bandeira: «Eu sabia que o João estava a pensar ir-se embora pela Primavera, tínhamos conversado sobre isso, falou-me da Suíça, o Luxemburgo talvez, era tudo mais ou menos segredo. Ele não é do Dafundo: veio com a mãe e os dois irmãos da Madeira, onde há três décadas se travou de razões com os independentistas da Flama. Até há um par de anos, trabalhava na indústria do cinema: era responsável pelos geradores durante as filmagens. Conheceu um monte de gente famosa, a Cameron Diaz e outros nomes que não retive mas sei importantes. Certa vez alguém na tasca estranhou uma impressão minha a preto-e-branco. Porque não a cores, perguntava. O João irritou-se e abanou a cabeça em sinal de desdém, ignorante que o outro era. Os vizinhos têm-lhe respeito, é um homem difícil mas nobre.»

 

Gui Abreu de Lima: «Hoje nem a literatura. Todos os livros neste dia são nós na goela. É dó do escritor que eu sinto, como se o cansaço do seu esforço fosse todo meu e as penas expostas junto às minhas, quase sobrepostas, me amortalhassem mais ainda, e o riso não existisse. Que tortura olhar o texto, montanha minada de silvas, horas e horas sobre um poço onde nunca se mata a sede. Haviam de queimar todos os livros hoje. De agrilhoar todos os escribas agora. E as palavras só deviam ser faladas, para que todos as ouvissem já.»