DELITO há dez anos
Ana Vidal: «[Nuno Júdice] é um homem sereno, tímido, afável e generoso. Tão generoso que me prefaciou um livro e depois se dispôs a fazer de propósito, com toda a naturalidade, uma viagem de 300 Km só para apresentá-lo. Bastaria isso para elogiá-lo e ficar feliz por ele.»
Bandeira: «Esta manhã, ao atravessar uma rua do Dafundo em direcção ao Café Africano, causei uma revoada de pombos. Repare, foi sem querer, mas podia tê-lo feito de propósito. Os pestinhas voaram em todas as direcções – a maior parte para cima – assim que me viram; e eu dei comigo cara-a-cara com esta senhora de ar amável. Eram seus, os pombos que eu havia assarapantado. “Não se preocupe”, disse-me, “eles voltam”, e mostrou-me o isco, uma embalagem de comida para pássaros. Era tão bonita que eu mesmo poderia comer dela.»
José António Abreu: «Seis milhões de portugueses reagem mal a descontos.»
JPT: «No sábado vibrei com o golo de Kelvin, aquele com que, já no fim do jogo, o Porto derrotou o Benfica, assim quase quase roubando o campeonato que parecia decidido. Parei o carro, saí, entrei no restaurante mais próximo ("Cristal", na 24 de Julho), ainda vi a repetição do golo, ri-me de alguns conhecidos benfiquistas ali, tão desamparados estavam, troquei sorrisos cúmplices com amigos sportinguistas, ali algo seráficos mas contentes. Bebi uma cerveja.»
Luís Menezes Leitão: «Parece que, depois do desastre de em Portugal se ter querido ser mais troikista que a troika, agora é Durão Barroso, que se especializou em ser mais germanófilo que os alemães, que vai ser por estes atirado borda fora. O padrão é típico. O mandante dá as ordens e quando as coisas não resultam, o mandatário é que é sacrificado como bode expiatório.»
Eu: «Há romances espantosamente premonitórios, que fazem da sua circunstância a principal chave de um êxito a que talvez nunca aspirassem à partida. É o caso deste, o terceiro de José Cardoso Pires (1925-1998), após O Anjo Ancorado e O Hóspede de Job, surgido em 1968, um ano de mudanças várias nas sete partidas do globo - e nomeadamente na sociedade portuguesa, com Salazar a sair de cena após quatro décadas de poder quase absoluto, dando lugar a Marcelo Caetano, a quem se poderia pôr também o apodo de Delfim, novo guarda-mor de um regime em decomposição acelerada que este livro vislumbrava, logo no próprio título, com olhar lúcido e visionário.»