DELITO há dez anos
José António Abreu: «Ligo a familiares, amigos e colegas por razões particulares (telefonemas profissionais são outra realidade) e passo a duração da chamada em busca de assunto. Hesito. Repito-me. Balbucio trivialidades. Há pessoas capazes de ficar a conversar durante horas – sobre a saúde, o tempo, o almoço, as brincadeiras dos filhos, a idiotice ou a injustiça dos colegas de trabalho, um programa de televisão, os resultados do futebol, a temperatura e o tempo correctos para cozinhar pão-de-ló, os inacreditáveis erros de Gaspar e as inacreditáveis mentiras de Passos. Eu não. Ao vivo, cara a cara, até falo bastante. O telefone, porém, seca-me a verve.»
Patrícia Reis: «Estão 14 distritos em alerta, a chuva parece que não vai parar e as janelas da casa mínima onde estou ameaçam cair. Oiço o vento lá fora e, confesso, tenho medo. O melhor será um livro.»
Eu: «O cristianismo, para não trair a sua raiz nem o seu destino, jamais deve omitir a face humana de Jesus, que nasce numa gruta obscura e morre crucificado entre dois salteadores. Alheado de toda a glória mundana, despojado de todos os bens terrenos, proclama para a eternidade que nem a morte é capaz de travar a indomável essência do espírito.»