DELITO há dez anos
Ana Vidal: «Enquanto todos estes intelectuais se lambuzam em delírios de auto-satisfação devidamente acompanhados de um caprichado amuse-bouche no Gambrinus ou na Bica do Sapato, conforme o humor do momento, os pobres - essas curiosas criaturinhas que dão um jeitão para as estatísticas e justificam todas as teorias - fazem fila à porta de uma instituição humanitária, agradecendo ao céu da boca que ainda haja quem se deixe de conversa fiada e lhes ponha alguma coisa no prato.»
José António Abreu: «Quando a crise financeira de 2008 levou primeiro os países europeus a agravar o frenesim despesista e, logo a seguir, expôs o esquema de Ponzi a que se dedicavam há anos (e que muitos ainda hoje desejam prolongar), a Alemanha, não passando ao lado da crise (desde logo por causa dos bancos mas também porque, apesar das reformas, a economia alemã tinha – e tem – falhas), transformou-se num refúgio, vendo regressar os capitais e passando a financiar-se a juros pouco acima de zero. Naturalmente, transformou-se também no mau da fita.»
José Navarro de Andrade: «Não nos bastava sermos vistos a Norte como uns pedintes de mão estendida, meridionalmente mandriões e relaxados com as finanças. Não fosse o burgumestre de Berlim, ou quem quer que tenha sido, e ainda por cima haveríamos de ser alvo de chacota às mãos do nosso grand guignol e do seu Sancho Pança. Agora é que faz todo o sentido dizer: ich bin ein berliner!»
Leonor Barros: «O ar é mais puro, o ritmo é outro, posso comprar batatas, limões e ovos orgânicos produzidos num quintal aqui perto e posso, com muita felicidade minha, não ver o vídeo sobre Portugal exibido nos painéis de Lisboa na segunda-feira, amanhã mesmo. Adoro a minha vida de aldeã nestas alturas. E agora um pedido: até terça-feira mantenham-se quietos e caladinhos e deixem se de ideias e de fazer mais videos para a Merkel. Já chega, sim?»
Luís Menezes Leitão: «Se este filme passasse na Alemanha, acho que os alemães ficariam com uma ideia ainda pior de Portugal do que a que já têm. Eu pelo menos fiquei. Foi por isso um favor que nos fizeram que o vídeo não tivesse passado. Há certas pessoas em Portugal que no meio da tragédia ainda conseguem praticar a farsa.»