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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 29.12.21

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Ivone Mendes da Silva: «Estive, durante a tarde, a conversar sobre o romance Adoecer da Hélia Correia. Um beleza de livro, fica já aqui dito. A personagem central é Elizabeth Siddal, a conhecida pré-rafaelita que posou, entre outras coisas, para o quadro de John Everett Millais, feita Ofélia e deitada numa banheira mal aquecida com um vestido antigo recamado a fio de prata cujo peso a puxava para a pouca água e lhe provocou uma pneumonia de tão demorado ter sido o tempo de pose.»

 

João Carvalho: «Não tenho a certeza, mas parece que esta foto não é do funeral do querido ditador norte-coreano. Se fosse, aquele ciclista refractário que acabou de fugir da coluna já estaria, no momento da foto, a ser mortalmente alvejado por um agente da autoridade em julgamento supersumário feito a olho. Ainda assim, vou falar com o camarada Bernardino Soares para tirar dúvidas.»

 

José António Abreu: «Há muitos anos que Houellebecq, o escritor, se transformou numa personagem e ele sabe-o. Raramente os seus livros foram lidos pelo que pretendiam dizer e ele sabe-o. Chegou a referi-lo em entrevistas, explicando que as críticas negativas o chateavam acima de tudo por, centrando-se nele próprio – e, no fundo, muito mais na personagem Houellebecq do que nele próprio – e nas componentes de choque que os livros incluíam – misantropia, sexo, niilismo –, passarem ao lado daquilo que os livros efectivamente procuravam transmitir.»

 

Laura Ramos: «- Não achas que o TGV protegeria os portugueses do risco de assaltos como este?
Não tarda nada e a vida estará para os novos Bonnies&Clydes, que farão parar qualquer inocente comboio alfa...
É  que é pendular! Quero dizer: patibular.»

 

Rui Rocha«É evidente que a doença de [Hugo] Chávez, para o tomarmos como exemplo, é um assunto fundamental para a Venezuela. Sem Chávez não há chavismo. Uma doença grave do autor de tal programa político pode implicar uma mudança fundamental da situação do país. O que está em causa, todavia, é transformar uma doença real numa encenação teatral destinada a fortalecer a posição do tiranete e a abafar a oposição interna. Fazer de uma doença um golpe publicitário não é, na Venezuela, uma cabala perpetrada pelos inimigos do socialismo populista e delirante de Chávez. É o exemplo último da farsa em que Chávez converteu o debate político no seu país.»

 

Eu: «Vivemos numa expectativa tensa, num fugaz tempo de interlúdio. Um tempo em que os deuses morreram e Cristo ainda está por nascer, para usar uma magnífica metáfora de Marguerite Yourcenar - património franco-belga, património da Europa, património do mundo sem fronteiras.»