DELITO há dez anos
Ana Vidal: «Andávamos todos tão necessitados deste Castelões melhorado como do novo paradigma do dr. Soares. Mas não se apoquente, amigo novo-rico português que ficou excitado com a ideia de ter este ano um estômago mais brilhante do que a sua árvore de Natal: não quero apontar-lhe o dedo, que é isso! Nem dizer-lhe o que penso desta aberração imoral, sobretudo nos tempos que correm (olha, perdão, já disse). Afinal, você tem tanto direito de exibir a sua alarvice pseudo-sofisticada como qualquer sultão dos petroemiratos ou estrela pop, seja a lady gaga ou outra de discurso escorreito.»
Ivone Mendes da Silva: «Lembro-me de ter lido uma entrevista na qual uma das filhas de Jacques Brel dizia que o pai era igual aos bourgeois que vilipendiava nas canções. Por estas e por outras, hei-de preferir sempre a obra ao autor. Gosto de que leio, vejo e ouço. O resto, je m'en fous. Ne me quitte pas pode ser canção de amar ou de rastejar (e ninguém diga desta água não beberei...), mas é sobretudo uma belíssima canção. Postas assim as coisas, melhor, cantadas assim, eu teria ficado. Nem que fosse para me ir embora no dia seguinte.»
João Carvalho: «Pode não parecer pela notícia que o mencionado Jardim do braço-de-ferro com Lisboa é o mesmo Jardim que manteve audiências recentemente com Passos Coelho e Vítor Gaspar, nas quais entrou de carrinho e saiu de patins. Mas é ele. O que é que acham? Será que acabou o número dos palhaços e começou o dos trapezistas sem rede? Pode ser bom sinal. Que o circo prossiga.»
José António Abreu: «Juro que não fiz de propósito mas hoje, dia de greve geral, foi também o dia em que mais trabalhei esta semana.»
Luís M. Jorge: «Dia de greve é dia de trauliteirismo galopante, como sabemos. Daí a importância de mimarmos a nossa direita civilizada, que não alça mocas de Rio Maior nem vitupera a infame Constituição marxista onde se consagram direitos a quem dá cabo da economia.»
Luís Menezes Leitão: «Passos Coelho agora afirma que "temos que dar um passo atrás para dar dois passos em frente". Já há muito que me parecia que estas políticas do Governo com impostos extraordinários, taxas de IRS de 50% e confisco de salários aos funcionários públicos e pensões aos pensionistas nada tinham de liberal, mas antes de socialista. Agora verifica-se que o Primeiro-Ministro se filia claramente na pura dogmática de uma frase imemorial dita por Vladimir Ilitch Lenine em 1904 (a obra pode encontrar-se aqui). Lenine de facto conseguiu atingir o objectivo da sua vida, apesar dos muitos passos que deu para trás, mas a sua vitória representou a desgraça do seu povo durante quase 75 anos. Desejo sinceramente que Portugal não passe pelo mesmo.»
Rui Rocha: «Os dados apresentados pelos sindicatos só são compreensíveis se os entendermos como um milagre (ocorre-me o episódio da multiplicação dos pães), prestidigitação ou pura charlatanice. Na verdade, aceitar uma participação próxima de 1 milhão de trabalhadores já exige alguma boa vontade. Estaríamos, mesmo nesse caso, a falar de 20% da população empregada e de um número inferior em 2 milhões ao apresentado pelos sindicatos.»
Eu: «Em dia de greve geral suscita-se a questão: como vamos em matéria de direitos laborais por esse mundo fora? O melhor é consultar o relatório anual da Confederação Internacional de Sindicatos: nenhuma organização está tão bem informada nesta matéria.»