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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 24.10.21

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Ana Margarida Craveiro: «Os políticos têm a obrigação de dar o exemplo, bem para além da legalidade, para evitar perder a legitimidade. E não, isto não é uma demagogia, ou populismo do pior. É a simples constatação de que fica mal usufruir dessas benesses ao mesmo tempo que fazem cortes a quem ganha 600 ou 700 euros por mês. E, já dizia o provérbio, à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo. O carácter, a idoneidade moral e a noção de justiça provam-se nestes tempos.»

 

Ivone Mendes da Silva: «O seu autor, o Ega,  escreve num registo entre o irónico e o blasé. Um pouco diletante, às vezes pára por uns tempos largos. Depois volta e fala-nos dos livros que leu, de uma osga que não matou, de alguns telefonemas, do literário encanto das estações de comboios. E é contra o acordo ortográfico, o que é sempre muito bom de ler.»

 

João Carvalho: «Ontem, a RTP noticiava que a Segurança Social apenas garantia reformas até 2040. Hoje, a mesma RTP dizia que a Segurança Social afinal só tem fundos até 2030, acrescentando que o prazo fôra antecipado cinco anos! De repente, lembrei-me que as cinco estátuas no frontispício daquela igreja além representam os Dez Mandamentos da Lei de Deus, que são Fé, Esperança e Caridade...»

 

José Gomes André: «Um dos mais claros sinais da degradação nacional é a incapacidade de o país se libertar dos seus furúnculos. Como podemos sair do buraco se continuamos a pedir opinião às mesmas figuras que nos conduziram à desgraça? Nos debates televisivos pululam ex-políticos conhecidos pelos seus erros como governantes (há dias ouvi António Mendonça e Pina Moura a "proporem soluções" para o país). Já Teixeira dos Santos professa "Lições de Sapiência" em colóquios e universidades. O que se segue? Conferências de José Sócrates sobre ética pública?»

 

Laura Ramos: «A defesa nacional é uma obra bem mais vasta do que a que associamos à gestão das forças armadas. E as forças armadas, por seu lado, têm sobre os ombros muito mais do que a administração de uma guerra teórica, entregue a paradas de rotina e à organização dos de oficiais de dia.»

 

Leonor Barros: «Pensei que estávamos de tanga e que era esperado que todos fizéssemos sacrifícios e, se assim fosse, Aguiar-Branco e todos os outros não fariam mais do que é que pedido aos portugueses em geral.»

 

Luís Menezes Leitão: «O Governo efectuou um ataque brutal aos funcionários públicos quando lhes retirou os dois subsídios a que legitimamente têm direito, não conseguindo apresentar qualquer justificação convincente para uma medida tão discriminatória, a não ser a afirmação populista de que os funcionários públicos são uns privilegiados.»

 

Rodrigo Sousa e Castro: «Também sou filho de um ferroviário. Costumo dizer que nasci entre carris. O meu camarada Salgueiro Maia e tantos outros capitães também o eram. Isto tem uma explicação, que tem a ver com este debate. O transporte ferroviário era para nós, filhos dos ferroviários, gratuito enquanto estudantes e isso (no meu caso foi assim) permitia-nos que de lancheira na mão nos deslocássemos onde havia estudos secundários.»

 

Rui Rocha: «O ministro e o secretário de Estado não fizeram qualquer favor aos portugueses. Fizeram o favor a eles próprios, tardiamente e com ares de arrogância, de não se condenarem a uma posição eticamente reprovável e legalmente muito duvidosa. Deviam, por isso, apresentar-se aos cidadãos muito mais satisfeitos e aliviados. Disse-se, e bem, que está na hora de mudar. É sempre bom começar pela atitude. E, já agora, aproveitar a embalagem para revogar ou rever leis que consagram privilégios que são, por estes dias, absolutamente injustificados.»

 

Teresa Ribeiro: «Para governar bem é preciso trair amigos, fazer inimigos, frustrar expectativas, perder apoios, esquecer interesses, arriscar o futuro e às vezes o pêlo. Como missão não há nada mais nobre, mas como projecto de vida pode ser desastroso. Que prazer suscita? Poucos estarão em posição para responder. Por isso a discussão sobre a necessidade de criar incentivos para atrair os mais capazes para a causa pública sempre me pareceu artificial. Nunca há dinheiro que pague tanto sacrifício.»

 

Eu: «Pensava que a esquerda radical era claramente favorável ao tiranicídio. Pensava que a esquerda radical gostava de ver ditadores executados pelas "massas populares" em vez de os ver placidamente confiados à "justiça burguesa". Afinal enganei-me: o Bruno Carvalho e a Helena Borges, que nunca choraram qualquer lágrima pelas vítimas de Kadhafi, andam a chorar a forma como o ditador foi executado. Tratou-se de um acto brutal e repugnante - de acordo. Mas será que no mesmo blogue onde escreve quem celebrou o regicídio de Fevereiro de 1908, elegendo até esse duplo crime que chocou a Europa como acto fundador da república portuguesa, sobrará um pingo de moral a alguém para se indignar agora contra os Buíças de Sirte?»