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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 18.10.21

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Ana Cláudia Vicente: «O Verão de 1939 não iria durar. Hospedada pelo cônsul britânico, seu patrício, a dita rapariga haveria de ganhar à-vontade suficiente para pedir um dos automóveis do serviço diplomático (dos poucos que ainda tinham direito de  passagem entre a fronteira germano-polaca) para uma caça à notícia e avio de víveres.»

 

Ana Margarida Craveiro: «Os estudantes que se queixam dos cortes no ensino superior querem pagar mais propinas para cobrir os gastos efectivos do sistema? Não, pois não? Então estamos conversados.»

 

Ana Vidal: «Nasci numa família em que a gastronomia foi sempre – ao longo de gerações – um culto e um prazer, com honras de biblioteca e pesando, até, na escolha de itinerários de viagem. E o que pode haver de mais poético do que as memórias de um tempo em que tudo era assim, brando e promissor, sem pressas nem atropelos, apesar da sede imensa de uma vida inteira pela frente, por beber ainda?»

 

Ivone Mendes da Silva: «Em 1916, no único número da revista Centauro, Luís de Montalvor escreveu: "Somos descendentes do século da decadência e só a beleza nos interessa." Durante muitos anos pensei que era um bom lema para um projecto de vida. Agora, inclino-me mais para que seja uma tábua de salvação. Instável, claro,  porque o mundo não se entorna  para o lado da durabilidade.»

 

João Campos: «Longos anos volvidos, confirma-se que Jorge Sampaio tinha razão: há, de facto, vida para além do défice. O ex-Presidente esqueceu-se foi de dizer quão difícil é essa vida.»

 

João Carvalho: «Não sei se as alternativas eram ou não melhores e até ponho de lado se as competências merecem ou não grande confiança. O que não me sai da cabeça é outra coisa: ainda há uns meses o Sócrates jurava que não havia qualquer razão para alarme e mantinha de pé o Mendonça e os maiores projectos. Podem beliscar-me, por favor?»

 

José António Abreu: «Em teoria, mais impostos cobrados aos ricos (por aumento da matéria colectável, não por aumento de taxas que, convenhamos, já são ridiculamente elevadas) permitiria baixar os impostos ao cidadão comum (dream on) ou, pelo menos, garantir contas públicas mais equilibradas (durante cerca de três semanas), o que possibilitaria manter transferências sociais actualmente em risco. Aumentar a matéria colectável parece assim uma via adequada para conseguir diminuir o tal fosso entre ricos e pobres. Resta saber se o resultado seria significativo. Dos pináculos da minha irrelevância, apoiado nos instintos mais puros (porque sem qualquer sustentação em estudos científicos ou académicos), estou convencido de que apenas o seria com o fim dos paraísos fiscais.»

 

José Maria Gui Pimentel: «Nos cerca de quatro meses que dura esta legislatura, o Governo mostrou apenas uma qualidade: coragem. Um Governo com coragem é, admitamos, importante – caso raro na nossa democracia – todavia é também escasso para o período em questão. Para se operar uma reestruturação da economia, Portugal necessita de tomar medidas estruturais, de fundo. Essas sim porão à prova o engenho e arte do executivo. 

 

Laura Ramos: «Em tempos de globalização, estejam atentos, porque às vezes os sinais não estão longe e moram ao pé de nós, ingénuos distraídos.»

 

Leonor Barros: «Será que ouvi bem e que não vai haver cortes nas pensões vitalícias dos ex-políticos? Não basta agradar à Troika, senhores governantes. Há que governar de forma séria, honesta e justa. Tenham vergonha na cara e mostrem que são capazes.»

 

Luís M. Jorge: «Já toda a gente, da esquerda à direita, percebeu: o Governo vai aproveitar a crise da dívida para aplicar um choque liberal à economia, tal como Bush aproveitou o ataque ao World Trade Center para invadir o Iraque. É mais um jogo de altíssimo risco, que se sucede ao outro — o expansionista — do Governo de Sócrates.»

 

Rui Rocha: «Quanto vale a progressão de carreira que, provavelmente, será mais rápida no privado? E a garantia de emprego que será, tudo indica, mais fiável no público?»