DELITO há dez anos
Ana Lima: «Não se pode deixar de distinguir o que é a complexidade de um graffiti, de um conjunto sem nexo de tags, as malfadadas assinaturas, (...) e que são, normalmente, feitas apenas para marcar um território ou meramente com a intenção deliberada de sujar. (Em Portugal não se utiliza tanto mas no Brasil distingue-se completamente entre graffiti e pichação). Nem podemos pensar que qualquer parede poderá servir de suporte aos graffiti. Os “verdadeiros graffiters” normalmente seleccionam criteriosamente esses suportes.»
Ivone Mendes da Silva: «Ontem, os nossos luíses, eheh, pareço uma aristocrata francesa antes de revolução, dizia eu que os nossos luíses se digladiaram aqui sobre os grafitis com ilustrados argumentos. Lamentámos todos que o certame tivesse sido interrompido pelo jantar de um e pelas aulas de outro. Hoje, porém, voltei a lembrar-me do assunto: ao passar rapidamente os olhos pelos títulos da imprensa online, leio que Durão Barroso afirmou que se devia dizer: "Amo-te, Europa." Eu achei muita piada a este arroubo de matriz mitológica. Após tal enunciação, só falta, num gesto de apaixonado de primeira viagem, ir pichá-la numa fachada. Pública, talvez, não sei.»
José Maria Gui Pimentel: «A oposição, da esquerda à direita, ciosa de uma oportunidade palpável para atacar AJJ, agarrou-se com unhas e dentes à questão do buraco financeiro. Mas fê-lo de uma maneira que – particularmente nos partidos de esquerda – não creio ser a melhor, pois dá a entender que, nos mais de 30 anos de governação, a má conduta de AJJ se resume ao sobre-endividamento do arquipélago. Com este método, não demorará muito (se é que já não acontece) até o povo adaptar o célebre adágio “aldraba mas faz”, para “endivida mas faz”.»
Leonor Barros: «Por favor, poupem-me ao discurso de que o país não pode, blá blá blá, que estamos pobrezinhos, que sim, a economia, os mercados, e o diabo a sete e de uma vez por todas levantem os rabos do encosto cómodo que não lhes permite vislumbrar os dois milhões de pobres que existem neste país. Quinhentos euros podem fazer a diferença. Tenho a certeza de que fariam.»
Luís Menezes Leitão: «O Ministério da Educação acaba de prestar um grande serviço pedagógico aos alunos. Ficaram desde já a saber que é este o Estado Português com que terão de conviver em adultos: um Estado que a todo o tempo pode desrespeitar os seus compromissos, cortar unilateralmente os salários aos seus funcionários, as pensões aos seus pensionistas e aumentar retroactivamente os impostos que cobra. Os alunos podem assim desde já habituar-se a que é este o país em que vivem e pensar em emigrar para o estrangeiro. Só essa lição vale mais que o prémio.»
Rui Rocha: «Não é todos os dias que temos uma luta de Luíses. A coisa só fica esclarecida com uma prova de conceito. O Menezes Leitão traz o spray e o M. Jorge dá as paredes lá de casa dele.»
Teresa Ribeiro: «Envelhecer já não é encarado como um fenómeno natural. Agora chamam-lhe arte. Não me parece mal. Se considerarmos os testemunhos dos clientes das plásticas e até dos que fazem questão de celebrar o aparecimento das rugas como algo libertador, até podemos considerá-lo uma arte de palco. Às vezes esses que se manifestam contra a corrente exibem tal alegria com os seus duplos queixos e cabelos brancos que por vezes os confundo com os outros. Há alegrias tão contentinhas que até parece que levaram silicone nos entrefolhos.»