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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 19.06.21

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Ana Sofia Couto: «O João Lisboa tem vindo a fazer uma lista de casos que tornam a questão muito pertinente. Agora é uma notícia do Correio da Manhã sobre um jovem agricultor que violou uma vizinha de 87 anos. Às autoridades, disse: Vi-a a cortar batatas na cozinha e não sei o que me deu, não resisti

 

Coutinho Ribeiro: «Confesso: enquanto estudante universitário, copiei alguma vezes. Não muito. Não porque a tentação não fosse grande, mas, sobretudo, porque tinha medo de ser apanhado. E fui: numa segunda frequência de Economia Política, que teimava em arrastar desde o 1.º ano, não tive tempo de engolir a cábula, fui chutado para fora da sala e - pior - lá se foi o meu 13 da primeira frequência. Nunca ocultei o facto, mas também é verdade que nunca me orgulhei dele. Para além de que sempre admirei bastante os meus colegas estudiosos, que não copiavam. Por essa altura, pensava assim: esses são os que vão ser magistrados.»

 

José António Abreu: «Horas depois, regressando a Itália, conduzo em direcção ao Col du Grand-Saint-Bernard e pondero seguir pela histórica passagem, subir ao local do mosteiro onde os monges criaram a raça há cerca de trezentos anos. Mas é tarde, ameaça escurecer. Opto pelo túnel de quase seis quilómetros inaugurado em 1964. Enquanto o percorro, e por muito ilógico que seja, não consigo evitar a sensação de que, ao evitar o esforço, estou de alguma forma a trair os simpáticos mastodontes helvéticos. A ser um bocadinho o velho do Tchékhov.»

 

José Maria Gui Pimentel: «Dentro em breve (eu diria uma década, mas a prudência obriga-me a ser menos preciso) começarão a chegar a cargos públicos (particularmente aos cargos políticos) jovens que já viveram plenamente a era das redes sociais. Esses incautos jovens adultos verão os jornais pejados daquilo que foram colocando nas redes sociais durante os seus anos de anonimato: fotografias de bebedeiras ou em posturas menos ortodoxas, comentários com palavrões, racistas, homofóbicos… Enfim, a antítese da postura politicamente correcta que esses jovens políticos quereriam passar.»

 

Luís M. Jorge: «Uma espécie de National Geographic para as igrejas evangélicas. Como nascem os meninos, como explodem os planetas, como faz o dinossauro. No meio há um pai tirano: Júnior, tens de ser forte e tal.Malick demorou cinco anos a realizar a pepineira. É pouco. Vê-la demora uma eternidade.»

 

Patrícia Reis: «O começo do soneto é de Shakespeare. Dá título ao livro de Mary Westmacott, aliás Agatha Christie. A história singular de uma mulher que espera por um comboio para regressar à vidinha? Sim. Em simultâneo, a personagem central fica com tempo para rever o seu tempo de vida, com o marido, os três filhos, as coisas da vida. Pensar é um acto violento, disse Vergílio Ferreira. Nada mais certeiro.»

 

Teresa Ribeiro: «Descobri o sax através de Clarence Clemons e foi como se me tivesse aberto as portas do céu. Soube hoje que se mudou para lá em definitivo. Por esta hora os anjos já devem estar a arrumar as harpas nas nuvens de cima.»