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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 24.05.21

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Ana Cláudia Vicente: «Soube nestes dias notícia de um formador que participou ao Centro de Novas Oportunidades [CNO] onde trabalhava a sua indisponibilidade para renovar contrato lectivo. Não estamos a falar de algum profissional jovem, sem compromissos familiares nem financeiros, pelo contrário. Falamos de alguém que deixou de aguentar a pressão para caucionar aprendizagens mínimas, (rare)feitas em menos de uma mão cheia de meses. Há tempos ouvi também a descrição de um outro professor/formador acerca de como era instado a agilizar os processos de certificação sob sua alçada. Agilizar.»

 

Ana Margarida Craveiro: «Em França, um político poderoso tinha por hábito fazer comentários lascivos às mulheres com quem privava, colaboradoras ou jornalistas. Falava-se que o referido político até teria ido mais longe que isso, com abusos físicos de cariz sexual, raiando a tentativa de violação, mas o caso poucas vezes transpareceu nos jornais. A perspectiva da comunicação social reflectia a cultura política francesa: abusos ou não (de poder, físicos ou psicológicos), são questões do foro privado. Aliás, as histórias contadas sem grandes pormenores até aumentavam a fama do político: um mulherengo, um sedutor, alguém a invejar.»

 

Ana Vidal«Os jacarandás floriram uma vez mais, exuberantes, talvez a lembrarem-nos de que ainda estamos vivos.»

 

Carlos Manuel Castro: «O que hoje parece algo sem grande impacto rapidamente pode transformar-se numa hipótese muito preocupante. Um breve exercício de memória lembrar-nos-á o que se passou em 2002, quando a França e a Europa acordaram, em choque, no dia a seguir à primeira volta das presidenciais, com Jean-Marie Le Pen a passar à segunda volta e a defrontar Chirac. Depois de em 2000 a extrema-direita ter chegado ao poder na Áustria. Pois é muito provável que Marine Le Pen chegue à segunda volta das presidenciais de 2012 e já esteve mais longe a certeza de que a sua candidatura podia perder.»

 

José António Abreu: «Quando ouço Sócrates acusar a oposição de ter provocado a crise, penso em Santana Lopes. (O que é chato porque em quase todas as circunstâncias prefiro pensar em pessoas com níveis mais elevados de estrogénio.) Se Santana se queixava dos companheiros de partido darem pontapés na incubadora onde o seu jovem governo lutava pela sobrevivência, Sócrates não faz mais do que acusar, vociferante, direita e esquerda de terem desligado a máquina que mantinha a respirar o seu velho governo exangue. Mas Santana obteve 28,7% dos votos em 2005. Ganhe ou perca, Sócrates deve conseguir mais. Parece que preferimos berros a lamúrias.»

 

Rui Rocha: «Mais uma vez José Sócrates faltou ao respeito aos portugueses tentando ludibriá-los relativamente à existência de compromissos que ele próprio assumiu. Perante a sucessão de factos como este, não é possível acompanhar os que dizem que o primeiro-ministro vive numa realidade alternativa. Na verdade, estamos mais propriamente perante uma realidade de alterne.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Gosto sempre de regressar a Cícero. Como de outras vezes faço com Aristóteles ou Alberoni. Nem que seja só por apenas alguns instantes. Os tempos que atravessamos isso mesmo me exigem. Sanidade o impõe. Sei que esta é uma outra época, mas salvaguardadas as distâncias não há nada que não tenha acontecido já.»

 

Eu: «É intolerável identificar a Tunísia do deposto Ben-Ali, a praça Tahrir e os opositores a Assad na Síria com protestos em cidades europeias como Atenas, Madrid e Londres. O Renato Teixeira sabe muito bem que é uma profunda desonestidade intelectual confundir aqueles que ousam erguer-se em revolta contra sistemas ditatoriais com os que reclamam contra as naturais imperfeições da democracia. Os primeiros correm o risco de ir parar anos a fio aos cárceres, sofrerem torturas ou até perderem a vida. Os segundos só correm o risco de uma constipação se cair uma chuvada mais forte.»