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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 06.03.21

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Ana Sofia Couto: «O jornal Expresso oferece esta semana o livro Fernando Pessoa – Ensaio Interpretativo da sua Vida e da sua Obra, de João Gaspar Simões. Não é o monumental Vida e Obra, com quase 700 páginas, mas apresenta a mesma tese freudiana. A propósito disto, lembrei-me de um texto sobre Fernando Pessoa e Ofélia Queirós que li há pouco tempo. Procurando questionar uma certa interpretação (que começou com Gaspar Simões) do namoro, a autora, Anna M. Klobucka, comenta a carta em que Pessoa escreve ao seu "bebé": "Sabes? Estou-te escrevendo mas não estou pensando em ti. Estou pensando nas saudades que tenho do tempo da caça aos pombos, e isto é uma coisa, como tu sabes, com que tu não tens nada…". Enquanto outros exegetas da obra de Pessoa tinham lido nestas palavras a repetição da nostalgia da infância, e encontrado na carta mais uma prova da negatividade da relação entre os namorados, o ensaio mostra, pelo confronto com as cartas de Ofélia, que os "pombos" eram, exactamente, o peito dela.»

 

João Carvalho: «Leio aqui no Expresso qualquer coisa que envolve "o contato direto com especialistas". Alguém sabe dizer-me por que raio de razão caiu o c de "contacto"? Na mesma notícia, logo abaixo, são referidas "várias actividades". Acham que o c de "contacto" foi parar às "atividades"? É apenas mais um caso menor do desacordo ortográfico. Certo jornalismo corre cheio de pressa atrás da moda, quando nem chegou a saber escrever direito antes do desacordo. Resultado: burrice estampada.»

 

Paulo Gorjão: «Rui Rio vai "repensar" o regime num ciclo de conferências que se prolongará durante um ano. Estamos perante uma pré-candidatura à liderança do PSD? Não sei, mas confesso que me lembrei logo dessa hipótese. A ser verdade, a última coisa que Rio quereria era eleições antecipadas em 2011. O que, por sua vez, explicaria a posição assumida pelo próprio e por terceiros no PSD segundo a qual mudar de governo neste momento é inútil.»

 

Rui Rocha: «Não sei se a História é cíclica ou se, quando se repete, se apresenta como farsa. Sei que é importante conhecê-la para sabermos os caminhos que nos conduziram ao presente. É por isso que gosto de ler o Andanças Medievais, da Cristina Torrão.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «Se fosse pelos seus atletas e pelos dirigentes da Federação Portuguesa de Atletismo, este país seria um dos melhores do mundo. Aquilo que falta a Portugal não lhes tem faltado a eles. Essa gente não conhece limites. A adversidade é coisa que não existe no seu vocabulário. Estar na periferia não faz qualquer diferença. Ali só há trabalho, muita dedicação, talento puro, resistência à dor, às contrariedades, aos azares, à falta de subsídios, ao ostracismo a que durante a maior parte do ano a comunicação social os vota. Há décadas que é assim.»

 

Eu: «O "erro" de Kadhafi, na perspectiva do PCP, não foi ter tiranizado um povo inteiro durante mais de 40 anos, suprimindo partidos políticos, liberdade de imprensa e liberdade sindical. O "erro" de Kadhafi, para os comunistas portugueses, não foi ter mandado prender, torturar e até assassinar quem se atreveu a contestá-lo, como sucedeu ao escritor Daif Gazal. O "erro" de Kadhafi, vem agora dizer o dirigente comunista Ângelo Alves, nas páginas do oficiosíssimo Avante!, ocorreu apenas nos anos mais recentes, quando decidiu "abraçar a guerra ao terrorismo". Isto num artigo em que a palavra "ditador" surge cuidadosamente colocada entre aspas, não vá algum militante lembrar-se ainda dos tempos em que o PCP enaltecia Kadhafi como uma espécie de Che Guevara do Magrebe.»