DELITO há dez anos
Fernando Sousa: «Festeje-se depressa a queda de Mubarak, porque há muito a fazer: um escritor da Guiné Equatorial, Juan Tomás Laurel, declarou-se hoje de manhã em greve de fome, durante a visita ao país de José Bono Martínez, presidente do Parlamento espanhol, atraído pelo mesmo que levou lá Luís Amado no ano passado – o aroma inebriante do petróleo do senhor Teodoro Obiang Nguema, cuja ditadura os Estados Unidos consideram benevolente.»
Francisco Proença de Carvalho: «Ontem foi mais um dia de greve no sector empresarial do Estado. Um Tribunal arbitral fixou serviços mínimos. Os trabalhadores não cumpriram. O sindicalista de profissão aplaudiu a subversão com um sorriso, como quem diz: “Na empresa pública mandamos nós! O Tribunal que se lixe...”. Este é um óptimo exemplo do que se passa no sector empresarial do Estado (que pouco tem de empresarial). Efectivamente, aqui quem manda são os sindicatos, as comissões de trabalhadores, ou seja, o PCP. Os contribuintes pagam, mas não mandam nada!»
Laura Ramos: «Finalmente! Na calha para o Óscar de Melhor Actor pelo papel em The King's Speech. Raramente concordaram comigo... mas Colin Firth é, há muito tempo, um dos meus fingidores favoritos. Por isso, embora estas coisas de Hollywood costumem despertar-me um interesse morno, este ano vou torcer muito, mesmo muito, para que o meu Mr. Darcy predilecto ganhe a estatueta (aposto que nas suas mãos até perdia aquele ar de troféu do volfrâmio). Seria absolutamente merecida.»
Rui Rocha: «É bem possível que o Bloco consiga o seu objectivo: manter o governo ligado à máquina por mais uns meses. Sócrates continuará incapaz de governar mas, com os cordelinhos puxados por Louçã, poderá ir acenando. O que não é coisa pouca para alguém que está já em estado de cadáver político.»
Sérgio de Almeida Correia: «Não sei se alguma coisa está a ser tecida quando tudo se resume a pedaços de papel. Da penhora ao aviso da hasta pública, da petição à convocatória do Congresso. Se não tem família, quem subscreverá o requerimento para a colocação da lápide no cemitério? Ou ficará sem lápide? Há-de aparecer alguém. Nem que seja um sobrinho, com um papel na mão, a ver se anula a adjudicação. Depois que o Álvaro se finou já não são as memórias dele nem as cartas de amor que são ridículas. Ridículos somos nós. Ultimamente muito esdrúxulos. Definitivamente sem graça. De papel.»
Eu: «Manuel Alegre terminou esta segunda corrida a Belém ainda mais isolado do que na primeira apesar de contar agora com o apoio oficial do Partido Socialista e do Bloco de Esquerda. A primeira estocada foi-lhe dada por José Sócrates na própria noite eleitoral ao declarar que os eleitores haviam optado pela "estabilidade política": uma tentativa canhestra de reaproximação a Cavaco Silva lançando para cima dos ombros de Alegre o labéu da "instabilidade". A segunda - e decisiva - estocada foi-lhe dada ontem por Francisco Louçã ao anunciar no Parlamento a primeira moção de censura pós-presidenciais ao Governo socialista, deitando por terra toda a estratégia de convergência das esquerdas que Alegre tentara construir nos últimos dois anos como plataforma para a sua candidatura presidencial.»