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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 01.02.21

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Bandeira: «Vai-se ao campo e não se tem electricidade. Aprende-se que é porque caiu um raio muito grande mesmo no centro da aldeia. O leitor não quereria estar por perto de um acontecimento como este. Para lhe dar uma ideia de quão perturbador pode ser, numa área de cinco metros em redor teria sido muito difícil usar o seu telemóvel. Por uma vez, é bom não ter de culpar o governo. Mas o homem que ficou com a casa destruída não concorda. Ele acreditara que um raio saberia distinguir um pára-raios das suas góticas antenas de TV.»

 

Fernando Sousa: «O grito de liberdade que alastra no Norte de África e vai no Médio Oriente é galvanizador. É impossível ficar indiferente. Multidões pedem reformas políticas, sociais e económicas ! Mas onde irá desaguar a onda é um mistério. Anos depois da conferência de Viena sobre a Declaração Universal de Direitos Humanos - a quem ninguém ligou peva, literalmente - as teses relativistas, defendidas, entre outros, pela generalidade dos países árabes, cedem perante as universalistas. Mas por muito que isto signifique um avanço promissor ao encontro de tudo o que há de mais fundo e comum no homem, há que pensar. O grito mais sagrado das democracias modernas – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – andou até nas ruas de Xangai, durante a Guerra do Ópio, mas não pegou - como se sabe e vê.»

 

Leonel Vicente: «O que pensará o meu cão da vida dos donos, dos humanos em geral? Porque correm tanto? (Parecem sempre tão apressados… Não deixara de reparar já que, com frequência, carregam num botão de uma engrenagem – da qual saem as pessoas quando vêm visitá-lo, e em que costuma andar, quando vai à rua passear os donos – que, fechando a porta mais depressa, permite ganhar uns preciosos dois segundos nos seus percursos). Para onde? Para quê?»

 

Eu: «Chegou-se a um ponto sem retorno, o que parece apavorar alguns "pragmáticos" de serviço, receosos do extremismo islâmico e de outros vírus que poderão contaminar o Egipto - onde vive um terço de toda a população árabe - à boleia dos ventos da liberdade. Conheço bem estes argumentos: já os escutei em 1989 e 1990, quando o império soviético ruía. Muitos preferiam o mundo arrumadinho em dois blocos imóveis para poupar o planeta a "novos conflitos". Falavam do lado de cá, gozando da liberdade que não queriam conceder aos do outro lado - como se os direitos humanos não devessem ter expressão universal. Foram os mesmos que, pelo mesmíssimo motivo, mal contiveram expressões de alívio quando viram o exército chinês reprimir ferozmente manifestantes pacíficos na Praça Tiananmen. O mundo ficava mais "previsível", menos "perigoso".»