DELITO há dez anos

André Azevedo Alves: «José Sócrates não será certamente o fã número 1 de Cavaco Silva, mas restam poucas dúvidas de que, por força das circunstâncias, Cavaco é (novamente) o candidato de Sócrates. Nas últimas presidenciais, a vitória de Cavaco serviu na perfeição os objectivos políticos pessoais de Sócrates ao garantir um Presidente “cooperante” e simultaneamente desferindo um humilhante golpe na ala soarista do PS. Desta feita, uma nova vitória – eventualmente folgada – de Cavaco Silva arrasará boa parte das pretensões do “alegrismo”. O sucesso eleitoral de Cavaco contribuirá assim, uma vez mais, para afirmar a mestria táctico-política de Sócrates, distinguindo-o de um partido com cada vez menos sinais de vitalidade interna e autonomia face à figura do seu líder.»
Laura Ramos: «Nunca fui optimista. Um optimista é um pessimista mal informado. O derrotismo costuma ser bom. É preventivo e é exigente e, só por isso, nem parece um traço português. Mas é.»
Rui Rocha: «Queira-se ou não, o fenómeno religioso é uma das manifestações mais evidentes do ser humano. Mesmo os que se colocam de fora, devem admitir este facto como dado histórico inquestionável. Como dado inquestionável é a importância da religião na conformação do substrato social de valores. Deste modo, não se deve prescindir de comparar religiões pelas consequências que estas têm nas sociedades humanas. Como não se pode deixar de comparar o estado de evolução das diversas sociedades, sempre tendo presente que a sociedade perfeita não existe e que o valor fundamental é a dignidade humana.»
Eu: «São absurdas estas corridas presidenciais com as festas de Natal e de Ano Novo de permeio. Que dispersam as atenções e distanciam os eleitores dos candidatos, fomentando a abstenção. O primeiro calendário eleitoral, em Junho de 1976, fazia bastante mais sentido. E até o segundo, no início de Dezembro, em 1980. Janeiro é que não faz sentido algum. Estranhamente, até agora não ouvi uma palavra sobre o assunto da parte dos candidatos ou de certos comentadores que gastam serões televisivos a debitar banalidades, incapazes de deixar transparecer uma ideia original ou esboçar um ângulo de análise digno de reflexão.»
