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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 28.12.20

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Ana Margarida Craveiro: «Longe vai o tempo em que as empresas punham e dispunham dos consumidores portugueses. Depois de nos arrastarmos na cauda da lista dos consumidores que assumem os seus direitos (durante muitos anos, comíamos e calávamos, que o livro de reclamações é uma coisa muito séria), surgem pessoas como a Maria João Nogueira, a demonstrar que o acto de compra não se limita a dar dinheiro em troca de um bem. Há um contrato, que deve ser cumprido pelas duas partes. As empresas têm obrigações, e deveres perante a lei. Quando falham, tentar calar o consumidor que reclama é capaz de não ser a atitude mais inteligente.»

 

Bandeira: «Queixemo-nos agora do frio violento, porque quando o calor chegar será tarde demais.»

 

João Carvalho: «A criança regressou a um quadro de vida claramente inadequado e de risco, mas podem todos respirar de alívio: está sã e salva. Tanto quanto esta espécie de jornalismo sem exigência. Ou seja: não está. Porque a notícia, ó gente bacoca, não é que a menina de 13 anos está sã e salva e foi entregue à família, mas sim que a menina de 13 anos foi encontrada longe de casa após três dias com um "namorado".»

 

Rui Rocha: «A recandidatura de Cavaco Silva corre-lhe bem. A conjuntura já lhe era favorável. Alegre, o principal opositor, apresenta-se sem base de apoio coerente. A clivagem política não se faz, em Portugal, entre esquerda e direita. Faz-se entre partidos do arco da governação e partidos do arco-da-velha (PCP e Bloco). Embora ocupem, aparentemente, espaços contíguos, PS e Bloco estão à distância desse fosso profundo que os separa. Alegre dedica-se ao esforço inglório de saltar de um lado para o outro. Em cada viagem, desbarata credibilidade. E, desta vez, não tem uma história de injustiça para contar. Em 2011, não existe um moinho com bochechas ao vento contra o qual um bardo quixotesco possa espetar a barba. Sem moinhos não há crónicas épicas de cavalaria.»

 

Teresa Ribeiro: «Crises económicas e políticas? Foram várias as que Portugal já teve de enfrentar. A novidade é que desta vez sofremos uma enorme pressão do exterior para sermos consequentes. Por uma vez na nossa História os nossos governantes vêem-se fortemente constrangidos a proceder a verdadeiras reformas, as tais reformas estruturais que até hoje nunca desejaram. Esta é a única situação que me diverte e dá esperança neste cenário de crise. É a única boa notícia.»

 

Eu: «Nunca se viu um debate assim: dois candidatos presidenciais que vão defrontar-se nas urnas tratarem-se amavelmente por "colegas". Aconteceu ontem à noite, na RTP, no frente-a-frente que reuniu Defensor Moura e Fernando Nobre, ambos médicos. Parecia mais um debate para o cargo de bastonário da Ordem dos Médicos do que um debate presidencial. Sem dúvida o mais frouxo e desinteressante desta campanha.»