DELITO há dez anos
Ana Vidal: «Por mais que o marketing natalício nos atordoe com prendas e laçarotes, luzes faiscantes e toda a restante corte habitual de extras, o Natal é uma história simples. Grandiosa, mas simples. Trata-se do nascimento de uma criança. Prodigiosa, mas uma criança. E não o são, afinal, todas as crianças? Reduzida à sua condição mais depurada, a metáfora do Natal é óbvia: não perdermos nunca de vista o que é essencial, enredados em mil acessórios inúteis.»
Bandeira: «Fundamentalista é aquele que respeita todos os direitos dos outros, à excepção dos fundamentais.»
Rui Rocha: «A agência de notação Fitch acaba de cortar o rating de Portugal de AA- para A+. Ou seja, há mais. Dificuldades de acesso ao crédito, custos de financiamento, desemprego e pobreza. E também há menos: credibilidade do país junto dos investidores internacionais e crescimento. O Natal é tempo de presentes. Mas, este é mais um futuro. Envenenado. Os presentes e os futuros agradáveis são para quem se porta bem ao longo dos anos. Para quem faz o trabalho de casa. De acordo com a Fitch, alguém por aí continua a passear a sua incompetência. À nossa custa. Nos próximos tempos, temos que pôr o sapatinho. No fundilhos das calças dessa gente.»
Sérgio de Almeida Correia: «A todos os meus companheiros do DELITO e aos leitores (mesmo os estafermos anónimos) que me aturam, apesar da crise e das perspectivas para 2011 não serem as melhores, desejo que passem um Natal tranquilo, com saúde e com paz, e que a estrela que outrora iluminou Belém possa amanhã também iluminá-los e aconchegá-los.»
Teresa Ribeiro: «Natal sem crianças não tem graça, mas sem pobrezinhos também não. Nada como a quadra natalícia para aconchegar o ego de alguns cristãos, fazê-los sentir solidários e generosos. Se não circulassem nesta época do ano as habituais histórias de miséria com gente dentro pelas televisões, pelos jornais e pelas paróquias, aquela comoção ritual, que chega a arrancar uma lágrima furtiva aos corações mais empedernidos, não aconteceria e a possibilidade fascinante de algumas almas se surpreenderem e até comoverem com a sua própria sensibilidade perder-se-ia entre sonhos e filhós.»
Eu: «O que ditava o senso comum em 1900? É uma questão de [George] Friedman. Ele próprio responde: que a Europa lideraria o mundo no novo século e a guerra seria banida do horizonte. E em 1920? Que a Alemanha, destroçada pela I Guerra Mundial, seria incapaz de ressurgir das cinzas. E em 1940? Que o globo se manteria sob a alçada perpétua do III Reich. E em 1960? Que seria inevitável um holocausto nuclear. E em 1980? Que os americanos, expulsos do Irão e derrotados no Vietname, cederiam o passo ao pujante império soviético. Considerações emanadas do senso comum de cada época – e que apenas conduziram a previsões falhadas.»