DELITO há dez anos
João Carvalho: «"Isto é mesmo, literalmente, o Diabo à solta." São palavras do ministro da Administração Interna perante os estragos de um tornado na Sertã. Ninguém esperava que o ministro fosse um conhecedor em matéria de fenómenos naturais, pelo que a nota a salientar ficava assim assumida: há interferência mística malévola por aí e a acção governativa já a reconhece e lida com ela. Literalmente.»
Luísa: «Enquanto a escola for um espaço fabril com carácter obrigatório, não existirá lugar para a criatividade. Enquanto os alunos forem para a escola sem entusiasmo e os professores abrirem a porta da sala de aula esperando o toque de saída, não existirá futuro. Enquanto os programas, desadequados da realidade, forem imposição sem critério, todo o sistema ruirá, porque não há inteligência que sobreviva a tanta mediocridade.»
Rui Rocha: «Este post podia ser sobre uma cadeira vazia, aquela onde Liu Xiaobo se deveria hoje sentar e onde, na verdade, se deveriam sentar todos os injustiçados do Mundo porque lá todos teriam lugar. Ou sobre a cadeira que ficou vazia na entrega do 1.º Prémio Confúcio, porque nela teria lugar toda a injustiça do mundo. Prefiro que este post seja sobre a esperança e o futuro. Sobre cada pedra que se retira ao muro, onde quer que ele esteja, pedindo para ser derrubado. Creio ser este o simbolismo mais profundo do Dia Internacional dos Direitos Humanos que hoje se celebra e do Prémio Nobel da Paz que hoje não se entrega. Se querem que lhes diga, este post é sobre os meus filhos e o amor que lhes tenho.»
Sérgio de Almeida Correia: «Cavaco foi primeiro-ministro durante uma década e quando saiu deixou um País macambúzio, que delapidou sem proveito visível os fundos comunitários que foram postos à sua disposição, mergulhado em escândalos e com muitos dos seus ex-colaboradores em posições susceptíveis de lhes conferirem o estatuto e o conforto com que nunca sonharam. Vinte anos volvidos quase todas as reformas continuam por fazer. Ele está confortavelmente instalado em Belém, dando-se ares de estadista, e vai perorando por aí pelas reformas que foi incapaz de fazer, não obstante a maioria absoluta de que dispôs.»
Eu: «Em 1935, o jornalista, escritor e pacifista alemão Carl von Ossietzky foi impedido pelo regime nazi de receber em Oslo o Prémio Nobel da Paz que lhe foi atribuído nesse ano. Estava detido num campo de concentração e morreu escassos três anos depois, vitimado por uma tuberculose. Foi preciso esperar 75 anos para novamente um galardoado com o Nobel da Paz se ver impedido de receber o prémio na capital norueguesa e não poder sequer delegar essa função num membro da família, como sucedeu em 1975, quando Andrei Sakharov se fez representar pela mulher, Elena, e em 1983, quando também Lech Walesa esteve representado em Oslo pela mulher, Danuta. Desta vez - e à semelhança do que aconteceu com Von Ossietzky - nem a mulher do galardoado foi autorizada a viajar. Liu Xia, mulher de Liu Xiaobo, está há dois meses sob detenção domiciliária. Presa só pelo facto de ser casada com o novo Nobel da Paz, galardoado em reconhecimento pela sua "luta, longa e pacífica, pelos direitos fundamentais na China", segundo sublinhou o Comité Nobel.»