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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 22.10.20

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João Campos: «Já se sabe que o jornalismo científico em Portugal, em termos gerais, não prima pela qualidade. Mas por vezes, seria bom que os jornalistas dedicados a estes temas perdessem alguns minutos a confirmar algumas informações. Por exemplo, com uma pesquisa de cinco minutos da internet, a jornalista que escreveu esta notícia no Público saberia que "o lado escuro da Lua" (astronomicamente falando, não me refiro ao disco dos Pink Floyd) não ganha por vezes esta designação por nunca lá chegar a luz do Sol - ideia obviamente errada!-, mas por aquele hemisfério da Lua nunca ser visível a partir da Terra, devido ao facto de o movimento de rotação do satélite estar sincronizado com o seu período de translação. Enfim, é o que se arranja.»

 

João Carvalho: «Sei que estou atrasado (por outros afazeres que me exigem maior pontualidade), mas quero registar aqui um facto que me despertou para uma realidade que tem sido escamoteada, nesta semana nacional do Orçamento e cujo desfecho está ainda longe de se adivinhar: a verdadeira dimensão da dívida dita "soberana". Isto porque o governo tem afirmado sucessivamente que a dívida pública é muito inferior à dívida privada. Foi preciso Vítor Bento, economista, gestor e conselheiro de Estado, dizer há dois dias que isso "é uma falácia". Porquê? Porque, da dívida privada, 25 por cento é dívida das empresas públicas e mais 20 a 25 por cento é das parcerias público-privadas. Ou seja: quase metade da dívida nacional supostamente privada também é, afinal, dívida pública encapotada.»

 

Luís M. Jorge: «Pois não: um Conselheiro de Estado, rnhó nhó nhó, não podia revelar aquilo. Mas o clamor das prima donnas aborrece-me mais que a vaidade do homem. O teatrinho de António Costa em compunção, como se a Infâmia do professor deslustrasse a Pátria e as Instituições até ao Dia do Julgamento, foi um desempenho bombástico para o país escanifrado que ele ajudou a enterrar. A indignação tacanha é o vício dos portugueses. Não há delinquente no Conselho de Ministros nem boneco hirto na Presidência que nos refreie quando uma alma singela comete indiscrições de porteira. Marcelo revelou coisas que não sabíamos? De modo algum: mas pôs-lhe um dia e uma hora. E isto — no país das alusões ataviadas — é uma franqueza imperdoável.»

 

Marisa: «Tens pressa. Estás sempre cheio de pressa (mas para chegar aonde?). Tens sempre que ir a algum lado (aonde vai afinal toda a gente quando diz que tem de ir?). Corres muito. Corres demais. Não corras tanto, tens pressa para quê? Deixaste de ter sonhos. Em vez disso tens a cabeça entupida de projectos – para o trabalho, para um texto, para as férias e para a vida em geral. Sabias que é cientificamente provado que a maioria dos projectos falha? Ainda assim, planeias demais e preocupas-te demais. Respondes com “vai-se andando” e com “é a vida” à quietude dos dias que se consomem lentos. Jogas no Euromilhões religiosamente todas as semanas, confiante que bastaria isso. Estás submerso em frases feitas, ideias feitas, histórias que te fazem. E não questionas.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «[Decisão sensata], a de Vítor Baía, de confessar que se tivesse obtido num dos grandes clubes da capital os êxitos que conseguiu ao serviço do FC Porto isso teria tido outra dimensão. Ou a constatação, ao fim destes anos todos, de que um clube de bairro nunca passa disso mesmo. Por maior que seja o desgosto por essa situação e grandiosos os sucessos desportivos.»

 

Eu: «Um indivíduo isolado, disposto a levar uma greve de fome às últimas consequências, conseguiu o maior sinal de abertura da ditadura cubana do último meio século, levando à libertação de algumas dezenas de presos políticos. Esse indivíduo, o cubano Guillermo Fariñas, acaba de ser justamente distinguido com o Prémio Sakharov, anualmente atribuído pelo Parlamento Europeu. Na Assembleia da República, os grupos parlamentares aprovaram hoje um voto de congratulação por esta escolha. Todos? Todos não: o PCP e o seu apêndice verde estiveram não ao lado do resistente Fariñas mas da ditadura castrista. Espantosa justificação invocada num partido que se diz internacionalista: o Prémio Sakharov é um "instrumento político de intervenção e ingerência"

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