DELITO há dez anos
João Carvalho: «A Lusa também vai fazer greve? Qualquer dia parece a TAP. Com a diferença de que a TAP voa com ventos de todos os quadrantes e a Lusa marcha sempre a favor do vento. A greve só tem uma vantagem: enquanto a Lusa estiver a descer a Avenida da Liberdade e a pedir aumentos salariais ao Marquês de Pombal, não andará a escrever tolices.»
João Pedro Pimenta: «Com o tempo, o Douro ganhou divulgação, reconhecimento e potencial turístico, consagrados com a classificação de Património da Humanidade pela UNESCO. Tornou-se um destino de visita e entrou na moda. Com a melhoria das acessibilidades rodoviárias e fluviais - que não ferroviárias – surgiu a feliz ideia de criar um festival de cinema na região, o Douro Film Harvest. Com o apoio dos organismos públicos e privados ligados ao turismo, o projecto avançou e em 2009 conseguiu-se levar à região Andy McDowell, Milos Forman e Kyle Eastwood (filho do realizador de Gran Torino e compositor das bandas sonoras dos filmes do pai). Entretanto, Sabrosa pasmava com uma multidão a ver BB King ao vivo.»
Paulo Gorjão: «Custou, mas o objectivo foi conseguido. Portugal foi eleito para um lugar não permanente no Conselho de Segurança da ONU, deixando pelo caminho o Canadá, cuja derrota deixará cicatrizes no plano interno. Para trás ficam longos meses de trabalho de formiga, em que a diplomacia portuguesa sob a liderança de Luís Amado foi tecendo a sua teia, fio a fio, passo a passo.»
Eu: «E lá surge novamente, a propósito da merecida atribuição do Prémio Nobel da Paz a Liu Xiabo, a famigerada palavra dissidente. Que se emprega apenas como referência aos opositores nas ditaduras comunistas. Quem se opõe à dinastia dos irmãos Castro em Havana é dissidente. Quem se opõe à dinastia Kim em Pyongyang é dissidente. Quem ousa enfrentar a bota cardada de Pequim, que esmaga impiedosamente os defensores de direitos humanos, é dissidente. Mas a que propósito vem o palavrão? Dissidente, esclarece-me o Cândido de Figueiredo que tenho à mão, "é aquele que diverge da opinião geral". Parte-se portanto do princípio que a "opinião geral" se conforma com os ditames da ditadura, havendo uns quantos excêntricos que pensam de outra maneira, em evidente fuga à normalidade. Lamento, mas não uso a palavra. E rejeito o conceito. Lula da Silva e Dilma Rousseff foram opositores à ditadura militar brasileira - ninguém jamais ousou chamar-lhes dissidentes. Nelson Mandela foi um combatente contra o apartheid - não era um dissidente do regime racista sul-africano.»