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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 08.10.20

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João Carvalho: «O Público está a levar a cabo um inquérito: «Concorda que o PSD use a suspensão do projecto do TGV como condição para viabilizar o Orçamento para 2011?» No entanto, a resposta certa não está prevista: tanto faz. Porquê? Porque o projecto do TGV cai às segundas, quartas e sextas e avança às terças, quintas e sábados. Como as votações parlamentares costumam ser às sextas-feiras, o caso está resolvido por natureza.»

 

Luís M. Jorge: «Eis uma decisão de alto risco: se rejeitar o consenso dos bonzos Passos Coelho perde as instituições, embora, remotamente, possa ganhar o país. Não acredito que o faça. Não creio que o consiga, ainda que o tente — as rupturas exigem planos meticulosos, uma coisa nunca vista na Sant'Ana à Lapa. Mas lá que é um sonho bonito, isso é.»

 

Maria N.: «Pressentia ali uma ameaça. Os ícones de pau-preto que vieram de África embrulhados com ela em papel de jornal, que ela usava para as encher de terror e inventar rituais que deveriam cumprir para se protegerem, estavam a perder o seu poder. Já não estavam interessadas neles nem na aparição que ela inventara sobre um penedo, exigindo-lhes que comessem o chão. Era óbvio que já tinham esquecido o sabor da relva que evitava apocalipses. Substituíam-no por uma caçadora e agora o seu pé boto iria comer-lhe a carne pela perna acima e depois o tronco e os braços. Iria triturar a ossatura de passarinho, consumindo até os dentes, tomando por fim o seu lugar.»

 

Sérgio de Almeida Correia: «A escolha de Liu Xiaobo pela academia sueca do Nobel para Prémio Nobel da Paz é uma boa notícia. O facto de ter sido uma opção unânime só acentua a justeza da escolha. Escritor, comentador político e activista dos direitos humanos num país onde qualquer actividade política que fuja aos cânones dos senhores do partido é vista como uma ameaça ao regime, o galardoado tem tido uma vida em que tão depressa está atrás das grades como logo a seguir é libertado sem que se compreendam as razões para um e outro acto por parte das autoridades chinesas.»

 

Eu: «Escutas de duvidosa legalidade, disseminadas pela Rede à margem de qualquer enquadramento jurídico, servem agora de "prova" de acusação no tribunal da opinião pública - o mesmo onde se quis absolver Carlos Cruz após a sentença condenatória no processo Casa Pia. Se a moda pega, se a televisão começa a andar a reboque do YouTube, não tarda muito que tudo isto se transforme numa selva "mediática". Que o caso tenha sido levantado, em directo, por alguém com responsabilidades na vida cultural portuguesa torna a questão ainda mais grave.»