DELITO há dez anos
Adolfo Mesquita Nunes: «José Sócrates vai ter o seu Orçamento, sancionado pelo Presidente da República e com a anuência do partido que aspira substituir os socialistas. Pelo caminho, fez Passos Coelho passar por histérico, obrigando-o, aliás, a desdizer-se uma vez mais (teremos, quem sabe, mais um pedido de desculpas). Nos dias que correm, com a miserável situação do país e perante a escancarada incompetência técnica do Governo, não deixa de ser admirável.»
Ana Margarida Craveiro: «Renuncio ao bem que me faz ver o meu semelhante deslocar-se no máximo conforto de um automóvel de topo de gama pago com as minhas contribuições para o Orçamento do Estado, e nessa medida estou disposta a que se decrete que administradores das empresas públicas, directores e dirigentes dos mais variados níveis de administração, passem a utilizar os meios de transporte que o seu vencimento lhes permite adquirir.»
Ana Vidal: «E no entanto, meu amigo, não é de evidências, mas de intangíveis, que se faz essa fugaz matéria a que chamamos amor. Faz-se de uma substância estranha, mutante e imprevisível, apenas materializada na surpresa que de repente nos devolve o espelho: um corpo que desconhecíamos, um olhar perplexo. Faz-se de um súbito sobressalto que nos invade as entranhas, um imperioso capricho da pele, um inapelável desassossego. Faz-se de um gesto irreprimível, todo languidez e impotência. Faz-se da essência dos rios, correndo em curso livre até se precipitarem num mar que nunca viram, mas sabem ser o seu único destino.»
João Campos: «Com sete anos de excelentes notas a Francês, acabei o Secundário incapaz de me exprimir com um mínimo de fluência na língua francesa; e o mesmo não aconteceu com o Inglês porque aprender a ler, escrever e falar correctamente Inglês foi um objectivo pessoal que estabeleci no décimo ano e que resolvi sozinho, nos meus tempos livres - e tudo graças aos meus gostos mais ou menos geek, quem diria.»
Luís M. Jorge: «A receita e a despesa, e tal. Mas este PSD tem que deixar passar o orçamento: se até ontem tinha margem de manobra, hoje já não a tem. A lindeza que prepare as lágrimas, o copo de água e o batráquio.»
Rodrigo Moita de Deus: «Trinta e seis anos depois de Abril volta a ideologia e a semântica da época. De um lado quem quer mudar tudo. Quem quer revolucionar. Do outro, quem quer que tudo fique na mesma. Quem até prefere que o tempo volte para trás. Mas a relação de poder traz curiosas ironias. A relação de poder faz do centro-direita uma força revolucionária e da esquerda a força da reacção. O obscurantismo e o dogma ideológico.»
Sérgio de Almeida Correia: «Há coisas que não deviam ser ditas. Um senador vetusto devia saber resistir a um microfone quando não tem nada para dizer. O povo sofre com as crises, pois sofre, mas às vezes zanga-se.»
Eu: «O melhor desempenho parlamentar no ano legislativo que terminou coube, quanto a mim, ao bloquista João Semedo. É um bom orador, capaz de demolir com sólida argumentação as teses contrárias. E tem uma notável capacidade de trabalho, como ficou bem evidente no relatório que elaborou na comissão de inquérito às interferências do Governo em órgãos de comunicação social. Foi um relatório sério, minucioso, desassombrado, que prestigiou a instituição parlamentar.»