DELITO há dez anos
João Campos: «Há poucas coisas tão boas como sermos surpreendidos - no bom sentido - por um livro. Não sei como é que as outras pessoas compram os seus livros, quais são os critérios que utilizam, ou como chegam a um livro em particular. Comigo, isso normalmente acontece por influência. Por exemplo, o gosto pela literatura de ficção científica devo-o a um antigo (e extraordinário) professor de Filosofia, que sabendo do meu gosto pelo género no cinema e das minhas incursões pela escrita de ficção, me emprestou aquele que é um dos livros da minha vida: The Snow Queen, de Joan D. Vinge. Já o gosto pela "literatura de fantasia" surgiu do meu interesse antigo pelas mitologias, por alguns jogos mais ou menos geek que jogava durante a adolescência, e pelo impacto visual da adaptação de The Lord of the Rings, de Tolkien, realizada com mestria por Peter Jackson.»
Isabel Teixeira da Mota: «Hoje são muitas as instituições - “pai, mãe, irmãos, marido, namorado, vizinhos, autoridades, imprensa, rádio e televisão” - que se juntam para promover nádegas e umbigos, em especial no Verão, sem sequer perceberem que «não há nada mais feio, mais triste e ofensivo». E eu, que li com gosto as crónicas de Nélson Rodrigues, encontrei alguém que me proporcionou um enorme consolo estético e me reconciliou com a língua portuguesa do Brasil. Tudo num único movimento: uma escrita excelente.»
Leonor Barros: «Pode ser preconceito, se for assumo-o sem problemas mas isto das mulheres a falar de futebol pode parecer algo estranho. Não é a primeira vez que o faço mas sempre que o faço é pelo factor surpresa. E foi isto lá pela tarde por causa do sorteio de grupos, seja lá o que isso for. Pelo que lhe calhou em sorte, o Futebol Clube do Porto terá de se defrontar com o Beşiktas de Istambul, o CSKA de Sofia, e o Rapid de Viena. A propósito desta má sorte, Carlos Manuel afirmou que o problema para os jogadores eram as viagens. Ora como se sabe nenhuma das três dista a mais de umas quatro ou cinco horas de voo. Ou o Carlos Manuel tem com as coordenadas trocadas ou não recuperou às Provas de Recuperação à disciplina de Geografia, repetitiva, eu sei, mas nada a fazer. Andam estes viris rapazes a ser pagos a peso de ouro para se queixarem de uma viagenzita de avião ali mesmo na esquina da Europa. Meninas, é o que é.»
Sérgio de Almeida Correia: «Cada segundo que passa é uma conquista. Cada minuto vivido é um tiro no infortúnio. Cada hora respirada é uma morteirada na desgraça. E ao fim do dia que é sempre noite ainda se arranjam forças para sorrir para uma câmara, dizer uma larachas e cantar o hino. Eles, os desgraçados, o sal da terra, são a final os primeiros porta-vozes da esperança para quem à superfície, na dor da sua ausência, tem a sorte de ver todos os dias o raiar da aurora e se pode aquecer com os primeiros raios de sol.»
Teresa Ribeiro: «Não conheço um filme que fale da decadência física e psicológica de uma mulher que já conheceu o estrelato de uma forma tão cruel, por isso a coragem da protagonista ao aceitar o papel que lhe propuseram numa fase em que a sua carreira chegava ao fim é um dos aspectos mais admiráveis deste noir cuja trama é relatada por um cadáver. Pormenor notável, de que só tomamos conhecimento no fim.»
Eu: «Amanhã, em mais de cem cidades do mundo, haverá protestos contra a barbárie anunciada no Irão, onde nos últimos 31 anos pelo menos 150 pessoas foram apedrejadas até à morte. Em Lisboa protesta-se também. No Largo de Camões, às 18 horas. É um protesto igualmente contra o relativismo cultural, que nos impele a "respeitar todas as culturas", mesmo aquelas que toleram, incentivam e propagam a barbárie. Estas culturas não merecem qualquer respeito. Mais: merecem que nos pronunciemos activamente e deliberadamente contra elas. Mais ainda: não merecem sequer ser associadas ao nobre substantivo "cultura", tantas vezes abastardado. Porque barbárie e cultura são realidades incompatíveis. Digam o que disserem os relativistas.»