DELITO há dez anos
Ana Gabriela Fernandes: «A vida revela-nos, a partir de uma certa altura e para quem goste de reflectir, o valor dos acontecimentos passados, das pessoas que connosco se cruzaram, de tal forma que as personagens que julgávamos principais podem de repente tornar-se secundárias e as secundárias podem passar a principais. É um processo muito estranho mas que nos coloca na verdadeira dimensão da nossa realidade.»
Ana Vidal: «Pronto, eu prometo que não falo mais de Itália. Mas também têm de me prometer ouvir - até ao fim! - esta canção da fogosa Dalida (Yolanda Gigliotti de sua graça). Quem se lembra ainda desta egípcia, filha de emigrantes italianos no Cairo, que cantava num francês macarrónico e encantou tudo e todos durante os anos de ouro da canção francesa? Mesmo assim, à fama sucedeu-se o esquecimento e ela acabou por suicidar-se, incapaz de suportar o anonimato. Vá lá, ouçam-na aqui a contar com muita graça a história de Giuseppe Frabrizio Luca Santini, um napolitano típico.»
João Campos: «Mais do que contar uma história, Starship Troopers, obra polémica de Robert A. Heinlein, recorre aos mecanismos de uma narrativa para desenvolver um longo - e muito interessante - ensaio militar, político e mesmo social. De facto, muitos são os momentos em que temos a sensação de que a trama - a progressão de "Johnnie" Rico na "Mobile Infantry" durante o conflito espacial com uma espécie alienígena, os "Aracnídeos" - tem como único propósito servir de veículo à visão da sociedade futurista que Heinlein descreve - uma sociedade saída da queda das democracias ocidentais do século XX, e que vive naquilo a que (muito livremente) chamaria de "democracia militar".»