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Delito de Opinião

DELITO há dez anos

Pedro Correia, 04.01.20

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Ana Vidal: «Diz-se que é sempre cedo de mais para se morrer. Mas, por vezes, acontece que a frase não é apenas uma frase feita. Aconteceu hoje, com Lhasa, uma cantora de 37 anos  com uma carreira promissora (e uma vida, certamente) pela frente. Um talento natural para a música, felizmente gravado em três álbuns que poderemos ouvir sempre. Muitos outros se lhes seguiriam, tenho a certeza.»

 

André Couto: «A recentemente empossada presidência da União Europeia definiu as mulheres e o seu estatuto como uma das prioridades para o seu semestre de ascendente, agora não mais do que isto, sobre a política comunitária. José Rodríguez Zapatero propõe-se envidar esforços no sentido da criação do mandado de detenção europeu respeitante a crimes de violência doméstica, acrescentando um procedimento especial semelhante ao do homólogo que incide sobre terroristas.»

 

J. M. Coutinho Ribeiro: «Será que, pela primeira vez na vida, vou ter direito a um subsídio? Com tantos cigarros que já fumei e com o que isso deu de impostos ao Estado, parece-me justo. Ainda que eu saiba que o Estado não está preocupado comigo, nem com os outros fumadores - está preocupado é com os não fumadores, essas pobres vítimas que sofrem amargamente com o fumo dos outros, com o preço do ginásio, com o casamento gay e com o aquecimento global. Entretanto, talvez não fosse mau pedir, desde já, o reembolso dos cerca de 70 euros que me custou um cigarro electrónico que me impingiram por estes dias - a partir das oito da noite vendem-me qualquer coisa, porque ando normalmente distraído - e que, honestamente, ainda não tive coragem de usar em público, porque um fumador, queiram ou não, também tem o seu orgulho.»

 

João Carvalho: «Pacheco Pereira abre o seu Ponto Contra Ponto com uma coisa engraçada: «O Bloco Central das Lareiras», em que estabelece os pontos de união das mensagens de Natal de Manuela Ferreira Leite e de José Sócrates. Nos dois casos, a lareira acesa, a ideia de recato famíliar, o conforto da intimidade do lar e o décor natalício correspondem a um estilo decalcado que se repete. Com uma pequena diferença, segundo diz Pacheco Pereira: o elemento religioso no Presépio de Manuela Ferreira Leite e a falta do elemento religioso, substituído pela Árvore de Natal de José Sócrates. Ora, acontece que ambos têm um Presépio visível em cima da respectiva lareira, embora o de Sócrates seja mais pequeno, esteja mais afastado e não inclua um par de lunetas para ser visto por quem não quer vê-lo.»

 

José Gomes André: «O enredo [do romance A Peste, de Camus] é curiosamente simples  - sem causa conhecida irrompe uma epidemia numa cidade, que começa por matar os seus ratos, mas logo dizima boa parte da população, acompanhando nós a forma como várias personagens lidam com esta tragédia.Todavia, um conjunto de ramificações simbólicas e temáticas torna aquele livro num dos grandes textos do século XX, evocando o problema do absurdo, a questão da sobrevivência em sociedade e a postura perante a morte.»

 

Eu: «À direita, haverá a reposição de um velho filme, intitulado O Grande Tabu. O excesso de cálculo, em política, costuma desembocar em becos sem saída. Espera-se, por isso, que o tabu de Cavaco Silva em 2010 seja menos prolongado do que o de há 15 anos. Com a certeza de que, na sua ausência da próxima corrida presidencial, há um nome pronto para avançar: Marcelo Rebelo de Sousa. Dificilmente a direita arranjará melhor.»