DELITO há dez anos
Adolfo Mesquita Nunes: «Num jantar em Alcobaça em que se debruçou sobre o próximo governo, Manuela Ferreira Leite veio colocar o ónus da governabilidade nos outros partidos. Cabe ao CDS, PCP e Bloco, segundo ela, assegurar as condições de governabilidade do país. Engraçada esta teoria de Manuela Ferreira Leite que parece esquecer que, no espectro político português, o partido que menos afastado está do PS é o PSD, distância essa que é atravessada unicamente por um TGV.»
Ana Margarida Craveiro: «Ontem, no seu discurso de comemoração da República, Cavaco Silva insurgiu-se contra a lamúria, esse desporto nacional, pelo "dever de participação" na coisa pública (cito de cor). Nada de mais errado: a participação na esfera pública é um direito, uma opção nossa, e não um dever. O dever é o inverso, está na reserva por parte da esfera pública de se imiscuir nos nossos interesses privados. O governo representativo, tal como o conhecemos, significa precisamente esse esforço de reserva.»
João Carvalho: «O que importaria é saber como garantir melhor governação. E isso não vejo como depende do Chefe de Estado. Porque, afinal, o mais alto representante do Estado, seja ele Rei ou Presidente, é precisamente isso e não outra coisa. Que vantagens um ou outro traz para a qualidade dos governos, que é a preocupação dos povos? Nenhuma, a meu ver.»
José Gomes André: «O republicanismo permite escolher os mais competentes para a acção governativa ou para exercerem funções de soberania (e substituí-los caso se revelem inaptos), enquanto um modelo hereditário submete os destinos do povo a um acaso (a existência putativa de um soberano capaz). No primeiro caso, a virtude política é seleccionável; no segundo, resume-se a uma eventualidade. It's that simple.»
Leonor Barros: «Depois do negócio do sabão azul e branco, desinfectantes, antibacterianos, álcool em gel, gel em álcool, toalhitas e toalhetes ter aumentado exponencialmente, eis que surge mais uma oportunidade de negócio. Este simpático bicho de pelúcia é, nada mais nada menos, o vírus da gripe do nosso descontentameno e da felicidade de alguns. Pode ser adquirido pela módica quantia de sete dólares e noventa e cinco centavos e constitui a última idiotice no que respeita à pandemia.»